Educação

Música e autismo

Doutorando em Música e Educação desenvolve projeto para crianças autistas

Universal, inclusiva, terapêutica. A música é uma das manifestações mais antigas da humanidade e influencia o ser humano até hoje. Desde pequenos, bem pequenininhos mesmo, gostamos de música. Bebês dormem ao som de canções de ninar e, antes mesmo de completarem um aninho, balançam o corpinho quando ouvem música. Essa interação natural é um dos pontos de partida do projeto de extensão  universitária “Desenvolvimento de habilidades musicais em crianças autistas”, relizado por Claudia Eboli, na Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio).

Educadora musical, bacharel em piano, musicoterapeuta, mestre em Música e Educação e doutoranda em Música e Educação na Unirio, Claudia trabalha com autismo há 25 anos, e acredita que a música pode ajudar no processo de comunicação, tão comprometido nos autistas.

Quem Coruja – Como funciona o projeto Desenvolvimento de habilidades musicais em crianças autistas?
Claudia Eboli – É um projeto de extensão universitária sendo parte da minha pesquisa de Doutorado, que investiga as relações da música com os indivíduos com transtornos do espectro do autismo (TEA). O projeto tem por objetivo identificar e desenvolver as habilidades musicais de crianças autistas na faixa de 6 a 14 anos. O cadastramento para a participação no projeto terminou em novembro de 2014 e funcionará no Instituto Villa-Lobos (UNIRIO) durante o ano de 2015, com 24 crianças divididas em grupos de três. Os atendimentos pedagógicos-musicais serão gratuitos, uma vez por semana, e teremos estagiários das áreas de musicoterapia, educação musical e psicologia. É um projeto, afinal, que envolve pesquisa, ensino e extensão.

Quem Coruja – Qual a importância da música para o desenvolvimento de crianças autistas?
Claudia -A música é importantíssima para o desenvolvimento da criança autista porque ela serve como um canal de comunicação (que está prejudicada na criança autista) com o mundo a sua volta. Apesar da interação com outras pessoas ser bastante difícil, a interação com a música acontece de forma natural, sem barreiras para esses indivíduos. Através da atividade musical a criança autista pode ter seu aprendizado em muitas áreas facilitado, inclusive a da linguagem.

Quem Coruja – Qual o maior desafio para quem trabalha com crianças autistas?
Claudia – Considero que o maior desafio para os profissionais que trabalham com autistas seja criar disponibilidade para penetrar e entender o universo desses indivíduos. Cada indivíduo autista é diferente do outro e por isso não há como padronizar, rotular. A disponibilidade para compreender cada universo e lidar com aquilo que o indivíduo mostra, faz com que um vínculo importante se desenvolva entre o profissional e o indivíduo autista. Esse vínculo é a base para o desenvolvimento de qualquer trabalho que se pretenda realizar. É lógico que isso vai além da “intuição” e “sensibilidade” (que também são imprescindíveis, claro) e exige preparo, formação e tempo de experiência.

Quem Coruja – A seu ver, os pais, de um modo geral, são bem orientados pelos médicos quando os filhos recebem o diagnóstico de autismo?
Claudia – Depois da edição do DSM-5 em 2013, o diagnóstico de autismo passou a ser considerado dentro de um espectro muito amplo e isso fez com que mais crianças fossem consideradas com transtornos do espectro do autismo. No meu entendimento, muitos desses diagnósticos não correspondem porque, além de serem dados muito precocemente, geralmente são baseados em literatura. Um bom diagnóstico de autismo deve levar em conta a observação da criança por um tempo mais longo e deve combinar algumas características que os autistas apresentam. Se a criança apenas não olha quando é chamada ou gosta de brincar girando objetos, isso não é suficiente para considera-lo autista. E quando o diagnóstico está correto, os médicos, de uma maneira geral, indicam tratamento farmacológico e desconhecem o que existe de abordagens mais humanistas no tratamento da criança autista. No Brasil, o reconhecimento da musicoterapia pelos médicos como tratamento eficaz para os autistas está aumentando em função da maior divulgação de estudos científicos em revistas da área da saúde.  No entanto, ainda precisamos de muito mais pesquisas na área para que o autismo possa ser melhor diagnosticado e os pais possam ter uma orientação mais precisa.

Quem Coruja – E as escolas, e o próprio sistema de educação brasileiro, estão preparados para receber crianças autistas?
Claudia -O sistema educacional brasileiro continua a ser excludente mesmo após oito anos da promulgação da Lei da inclusão. Até hoje o sistema educacional não se adequou às exigências da Lei  e está longe de se adequar. Porém, observa-se um movimento lento e gradual no sentido de melhorar as condições das escolas para receber as crianças com necessidades especiais. As salas de recursos, que funcionam em apenas poucas escolas, são um começo desse movimento. Em relação ao autismo, específicamente, a mediação é um direito assegurado por lei e seria um recurso excelente, porém, pouquíssimas escolas oferecem. Conheço pais que arcam com essa despesa mesmo tendo seu filho numa escola pública. Infelizmente, o Brasil ainda engatinha quando o assunto é educação especial.

(2) Comentários

  1. Monica diz:

    Como fazer para uma criança autista receber ed musical na unirio?

    1. Fadua Matuck diz:

      Oi, Monica! Sugerimos que entre em contato com a UniRio para mais detalhes. Aqui vai o mail unirio@gmail.com

      Equipe Quem Coruja

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