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Plagiocefalia e uso de capacete em bebês

Saiba o que é e como tratar a assimetria de crânio em bebês

André tinha apenas três meses de vida quando a pediatra observou que havia um achatamento na base do crânio dele. O bebê se desenvolvia normalmente, e a única coisa que os pais haviam reparado era que ele costumava virar a cabecinha sempre para o mesmo lado quando dormia. O diagnóstico de torcicolo congênito veio após a consulta com uma fisioterapeuta, que também recomendou que se fizesse exames para saber se havia plagiocefalia, como é chamada a assimetria do formato do crânio.

– Ele nasceu com torcicolo e, por conta de um erro postural, acabou desenvolvendo a plagiocefalia. Ele dormia sempre com a cabecinha para o mesmo lado, e pelo fato de ser recém-nascido, muito molinho, e nós, marinheiros de primeira viagem, não estranhávamos. Até fazíamos o que nos orientavam: virar para um lado, virar para o outro. Mas quando ele dormia, sempre tinha uma tendência de cair com a cabecinha para o mesmo lado, e não mexíamos toda hora. Na verdade, ele tinha um encurtamento no músculo do pescoço, que fazia com que ele se sentisse mais confortável naquela posição. E essa postura, sempre para o mesmo lado, fez com que ele desenvolvesse a plagiocefalia – conta a jornalista Melina Amaral, mãe de André, hoje com 3 anos.

André usou capacete dos 5 aos 8 meses/ Arquivo pessoal
André usou capacete dos 5 aos 8 meses/ Arquivo pessoal

Para corrigir o problema, que, no caso do André, só foi diagnosticado depois de uma avaliação em clínica especializada, em São Paulo, muitas vezes é recomendado o uso de um capacete, espécie de órtese apropriada para a cabecinha de bebês.

– Crianças com crânio assimétrico podem ter plagiocefalia posicional ou plagiocefalia associada a craniossinostose – a fusão precoce de ossos do crânio. O capacete pode ser usado nos dois tipos de plagiocefalia. Diante de um bebê com cabeça assimétrica, é preciso responder a três perguntas: A assimetria do formato da cabeça estava presente ao nascimento? Se estivesse, há uma chance de que o paciente tenha craniossinostose, a qual requer avaliação por neurocirurgião, uma vez que muitos casos exigem tratamento cirúrgico. Deve-se ter em mente que alguns recém-nascidos com cabeça assimétrica têm apenas torcicolo congênito, o qual se acompanha de plagiocefalia. Se a resposta for negativa, passamos à segunda pergunta; a assimetria da cabeça mostra as características típicas da plagiocefalia posicional? Essas características incluem abaulamento da fronte no lado oposto, deslocamento para a frente da orelha no mesmo lado do achatamento da região occipital, ossos cranianos móveis à palpação etc. Se a resposta for positiva, passamos à terceira pergunta; qual o grau de assimetria da cabeça? Estima-se o grau de assimetria através de várias medidas do diâmetro da cabeça. Se a assimetria for considerada grave, o capacete pode estar indicado – explica Márcio Moacyr de Vasconcelos, presidente do Departamento Científico de Neurologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).

Segundo o pediatra, a plagiocefalia posicional aumentou de frequência nas últimas duas décadas, justamente na época em que adotou-se a norma de pôr os bebês para dormir de barriga para cima. A posição reduz o risco de morte súbita, por isso é recomendada..

– Acredita-se que cerca de 25% dos bebês apresentam assimetria da cabeça no primeiro semestre de vida. É fácil entender a ocorrência de plagiocefalia posicional se lembrarmos que bebês dessa idade possuem ossos maleáveis e apresentam crescimento intenso da cabeça. Plagiocefalia posicional significa a presença de um formato assimétrico da cabeça resultante da ação de forças externas, como por exemplo, a compressão da cabeça do feto pelos ossos maternos ou achatamento de um lado da cabeça porque o bebê dorme sempre sobre o mesmo lado. Se a assimetria da cabeça começou na vida intrauterina, ultrassonografias de boa qualidade poderão diagnosticá-la durante a gestação. Quando a plagiocefalia decorre do apoio da cabeça sobre um mesmo lado durante o sono, a assimetria se torna evidente nos primeiros meses de vida, muitas vezes acompanhada de rarefação dos cabelos sobre a área achatada na parte posterior da cabeça – afirma o neuropediatra.

O capacete corrige a plagiocefalia, redirecionando o crescimento do crânio, e é indicado para casos graves. Mas há outras formas de tentar corrigir o problema.

– Existem basicamente dois tipos de tratamento da plagiocefalia. O tratamento conservador baseia-se em fisioterapia (sobretudo se a criança tiver torcicolo congênito), promoção da posição de bruços por 15 a 20 minutos, de quatro a cinco vezes ao dia quando o bebê estiver acordado, trocas frequentes da posição em que o bebê dorme em relação ao berço, e mudança do lugar do berço em relação ao ambiente e às atividades externas. A princípio, o tratamento conservador é preferível. Quando o bebê chega aos 5 ou 6 meses de idade com assimetria significativa, ou em qualquer idade se a plagiocefalia posicional for considerada grave, o uso do capacete pode ser indicado. O capacete é moldado em cada bebê de modo a ajustar-se às áreas do crânio que são simétricas e deixar espaço na área achatada, promovendo a expansão da última. O tempo de tratamento depende de dois fatores: a idade da criança e o grau de assimetria da cabeça. A duração varia de 1 a 4 meses, mas é fundamental que a criança use o capacete mais de 20 horas por dia – diz Márcio Vasconcelos.

Melina e André, na época do tratamento, feito em São Paulo/ Arquivo pessoal
Melina e André, na época do tratamento, feito em São Paulo/ Arquivo pessoal

Melina tentou o tratamento conservador, mas quando André estava para completar cinco meses foi constatada a plagiocefalia de grau médio e recomendado o uso do capacete. Moradora do Rio de Janeiro, ela fez todo o tratamento em São Paulo, pois, em 2014, não havia clínica especializada no Rio. André usou o capacete dos cinco aos oito meses, 23 horas por dia. E tudo foi resolvido. Hoje o capacete é objeto de decoração no quartinho dele.

Hoje, o capacete é objeto de decoração/ Arquivo pessoal
Hoje, o capacete é objeto de decoração/ Arquivo pessoal

– Só podia tirar uma hora para a cabecinha descansar, fazer a assepsia do capacete, dar banho; e a gente respeitou muito isso. Ele dormia com o capacete. Algumas crianças apresentam algumas lesões, alergias, por conta do uso do capacete, do suor. Felizmente, o André usou durante o inverno, e não desenvolveu nenhum problema. O tratamento foi contínuo, não precisou ser interrompido. E em três meses estava tudo resolvido – lembra Melina, com alívio de mãe. – Fiquei muito preocupada e abalada, com medo de que pudesse ter algum comprometimento neurológico, apesar de todos os especialistas que a gente visitou terem dito que não, que era algo estético apenas. Mas sempre bate aquele medinho. Será que vai dar certo? Será que ele vai ficar com a cabecinha torta? Pesquisamos muito, entramos em contato com outras famílias que já haviam passado por isso, e foi fundamental para que nos tranquilizássemos.

Márcio Vasconcelos lembra que é difícil encontrar o capacete no país, e não conhece nenhum serviço médico do SUS que ofereça o tratamento da plagiocefalia por meio do equipamento. Talvez por isso Melina tenha enfrentado muitos olhares de estranhamento na rua. Pessoas que por desconhecimento até a criticavam por fazer um bebê tão pequeno usar aquilo. Mas quando o capacete é indicado, lembra o neuropediatra, a ausência de tratamento ortóptico poderá deixar a criança com a cabeça permanentemente assimétrica. O tratamento deve ser iniciado até os 18 meses de idade.

(5) Comentários

  1. MARLON ROBERTO DE OLIVEIRA diz:

    Gostaria de contatos de clinicas de capacetinho pois só tenho achado a Heads e o valor é muito caro. Grato

    1. Marta Paes diz:

      Olá, Marlon
      Gostaríamos de ajudar, mas realmente não temos esta informação.
      Quem Coruja

    2. Corpo Brinquedo diz:

      Marlon, Tem um tratamento gratuito na AACD.

  2. Angélica diz:

    Como faço para comprar o capacete para tratar a plagiocefalia?

    1. Marta Paes diz:

      Olá, Angélica
      Não tenho essa informação. Mas acredito que o médico que recomendou o uso do capacete possa orientar. Como se trata de uma prótese, talvez tenha que ser feita sob medida ou atender a determinadas especificações. Desculpe não poder ajudar.

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