Educadora alerta para excesso de exigências feitas às crianças
Boas notas na escola, bom desempenho em esportes, jogos ou atividades artísticas, vários compromissos por dia. Que os pais querem que seus filhos tenham sucesso na vida, não há dúvidas. Mas até que ponto é saudável “prepará-los” para isso, incentivar a competitividade ou criar expectativas ? Como saber se as cobranças estão de acordo com o que a criança pode fazer ou estão passando dos limites? A especialista em Educação Janaina Spolidorio chama a atenção para o perigo de se exigir demais das crianças.
– Excesso de tarefas e aulas são prejudiciais, porém mais do que elas é esperar mais resultados do que a criança pode oferecer. Muitas vezes os pais espelham nas crianças seus anseios e frustrações de quando menores e querem realizar com os filhos o que não puderam ou querem fazê-los reviver partes de sua infância que gostaram. Nem sempre é benéfico à criança – alerta a educadora, ressaltando a importância de respeitar as diferenças. – Cada criança é única e tem seus gostos, suas habilidades, suas preferências. Esperar que a criança seja outra pessoa causa impactos psicológicos que podem perdurar por anos e nem sempre conseguem lidar com as frustrações que não são suas e sim da expectativa do adulto, de algo que ele idealiza para a criança. A sobrecarga, por sua vez, traz cansaço corporal e físico e a criança acabará dando sinais de que está afetando-a de várias maneiras.
E estar atento a esses sinais é fundamental para não criar ou aumentar problemas de relacionamento familiar e até mesmo de saúde na criança. Muitas vezes, os pais não se dão conta de que são exigentes demais. Mas, observando o comportamento dos filhos, podem perceber a situação.
– As crianças vão apresentar, neste caso, mudanças progressivas ou bruscas de comportamento. A criança ficará com maior resistência, pode ter um aumento de cansaço, irritabilidade e começará a buscar comportamentos alternativos que não são próprios dela. Exigir demais pode acarretar ainda questões relacionadas a algumas doenças, então é preciso ter cuidado para não exigir demais dos pequenos – orienta Janaína.
Não se trata, é claro, de não poder fazer nenhuma cobrança. Exigências também são positivas e ajudam no desenvolvimento da autonomia. No desempenho escolar, por exemplo, o nível de exigência tende a aumentar de acordo com a idade. Ainda assim, é preciso bom-senso, afetividade e escuta.
– Com o tempo as responsabilidades irão aumentar e todos vão esperar que o aluno ganhe autonomia. A questão maior é se os adultos que conviveram com ele permitiram-no criar esta autonomia. A exigência deve ser sempre acompanhada de respaldo enquanto em idade escolar. Por mais que os pais não consigam acompanhar as matérias escolares, é preciso que ao menos exijam ao mesmo tempo que respaldem. É uma via de mão dupla entre exigência e orientação. Sem orientar devidamente e analisar até onde a criança pode chegar naquele momento, não faz sentido exigir – avalia Janaína.
A forma como os pais lidam com as exigências sobre eles mesmos também pode, segundo Janaína, afetar de diferentes maneiras as exigências que fazem aos filhos:
– Teremos dois grupos de pais. No primeiro grupo, há pais que exigem de si mesmos e tentam não sobrecarregar os filhos para que não fiquem da mesma forma, ou ainda acabam tomando as responsabilidades dos filhos para si mesmos, não percebendo que é mais uma carga para eles. No segundo grupo, temos os pais que se orgulham de ser exigentes e querem criar os filhos à sua semelhança, querendo que alcancem o nível de qualidade que pressupõem que todos devem ter, especialmente seus filhos.
Equilíbrio, como sempre, é o melhor caminho.
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