Separação nunca é fácil, e há casos extremos de brigas judiciais. Mas tem gente que consegue manter o bom relacionamento em prol dos filhos
Crianças precisam de amor. E isso é consenso entre especialistas, independentemente da filosofia que cada um adota para a educação dos pequenos. O amor dos pais é a principal referência que a maioria das crianças têm e necessitam. É por isso que, quando um casal se separa, a primeira coisa que bons pais costumam fazer é reforçar que a nova situação não altera o amor que eles sentem pelos filhos.
Mas há separações nada amigáveis que acabam afetando a relação com as crianças. Em alguns casos, a briga vai parar na justiça, envolvendo a guarda dos filhos. A advogada Ana Gerbase, especialista em Direito de Família e alienação parental (quando o pai é impedido de conviver com o filho), faz parte da Associação Brasileira Criança Feliz, que promove a campanha “Diga não à alienação parental”. Segundo ela, mesmo sem uma estatística a respeito, esse tipo de situação é bastante comum. A associação busca conscientizar os pais sobre os danos que esse tipo comportamento gera aos filhos.
– Há pais que não vêem seus filhos há anos devido a brigas judiciais. Na maioria dos casos, são mulheres que não querem que os ex-maridos tenham contato com os filhos. Elas fazem denúncia de abuso sexual, e sempre conseguem decisão favorável, pois nenhum juiz vai deixar uma criança em risco. É claro que é preciso investigar e proteger a criança, mas também vemos muitas falsas denúncias neste sentido – diz a advogada.
Casos de abuso sexual devem ser levados à Justiça e os agressores devem ser punidos. O que Ana Gerbase e outros membros da Associação Brasileira Criança Feliz procuram é evitar injustiças.
– Informação é fundamental, mas é um trabalho de formiguinha. Dentro dos casos de denúncia de abuso sexual, a maioria não procede. Por isso, tentamos mostrar, por meio de palestras, artigos e ações de esclarecimento, que tudo isso pode ser evitado em prol dos próprios filhos – explica.
Mesmo quando a situação não chega a este ponto, é comum ex-casais competirem pela atenção dos filhos ou desrespeitarem um ao outro em relação aos direitos que cada um tem com a criança. Isso sem falar em brigas por pensões. A separação é sempre um momento difícil, e às vezes envolve traições e problemas mais sérios, que dificilmente podem resultar no que se chama de separação amigável. Mas é possível, sim, manter uma boa relação com o ex, inclusive cuidando das crianças em conjunto.
A jornalista Angela Goes, mãe de Beatriz, de 12 anos, e Matheus, 10, mantém guarda compartilhada dos filhos desde a separação, em 2005.
– Assim que decidimos nos separar, concordamos que a guarda seria compartilhada. A nossa maior preocupação era garantir que as crianças, ainda bem pequenas, não perdessem contato com nenhum de nós. Acreditamos que a presença do pai é tão importante quanto a da mãe para o bem estar emocional dos filhos e que eles não devem ser privados desse convívio e desse amor. Foi uma decisão fácil, mas a logística disso nem sempre é simples. Resolvemos dividir o tempo igualmente: dividimos os dias da semana. As segundas e terças ficaram comigo, as quartas e quintas com ele, e as sextas, sábados e domingos são alternadas. Assim, ficamos juntos sexta, sábado, domingo, segunda e terça. O pai fica com eles quarta, quinta, sexta, sábado e domingo. E assim sucessivamente – conta.
O respeito entre o ex-casal é um dos segredos do bom relacionamento, mas o principal, é o amor pelos filhos.
– No nosso caso, o fim do casamento se deu de forma amigável. Isso certamente facilita as coisas. Buscamos conversar sobre tudo. Pedimos a opinião um do outro sobre os mais variados assuntos, simples ou complexos. Nem sempre é fácil. Nem sempre há consenso. Mas a chave é o diálogo. É importante que cada um reflita sobre as colocações do outro e coloque sempre o bem estar das crianças em primeiro lugar para tomar decisões – afirma Angela, ressaltando a importância do sentimento pelas crianças. – O mais importante é eles entenderem que são muito amados, estando longe ou perto.