Crescimento pode ser afetado por vários fatores
A estatura, assim como o peso, varia de pessoa para pessoa. Não há, portanto, um tamanho padrão para as crianças terem em cada faixa etária. Mas existe um gráfico de referência, com parâmetros que indicam se a criança está crescendo de forma adequada ao seu desenvolvimento. Acompanhar o crescimento das crianças é um cuidado importante para a saúde delas.
– Toda criança deve ser acompanhada pelo pediatra e ter suas medidas antropométricas (peso e estatura) anotadas nos gráficos de referência para sexo e idade que constam da Caderneta de Saúde do Ministério da Saúde. Através destes gráficos é possível avaliar se o crescimento está dentro da normalidade ou se está acontecendo algum desvio na curva, como diminuição da velocidade de crescimento. Se a criança não acompanha o gráfico ou se diminui a velocidade de crescimento, ela deve procurar o pediatra – diz a médica Mônica Moretzsohn, membro do Departamento Científico de Nutrologia da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
Algumas pessoas são mais baixas que outras por questões genéticas, mas o crescimento pode, sim, ser afetado por outras razões.
– A baixa estatura constitucional, ou seja, de origem familiar é a mais comum. Por meio da altura dos pais é possível calcular o alvo genético, cujo objetivo é avaliar o potencial de estatura adulta. Além da questão genética, uma nutrição inadequada, sedentarismo e o crescimento em ambiente familiar hostil, podem repercutir na altura final. Outras causas de baixa estatura são as síndromes genéticas, desnutrição, doenças crônicas envolvendo os tratos gastrointestinal, renal, cardíaco, pulmonar e causas endocrinológicas, como o hipotireoidismo e a deficiência de GH (hormônio de crescimento), por exemplo – explica a pediatra.
O crescimento acontece de forma diferenciada de acordo com cada fase. Segundo Mônica Moretzsohn, no primeiro ano de vida a criança cresce 25 cm por ano. De 1 a 2 anos, cresce 12 cm por ano, e de 3 a 10 anos a velocidade é mais lenta e constante, de 5 a 7 cm por ano até o início da puberdade. Nesta fase, ocorre o que costuma-se chamar de estirão de crescimento.
– As meninas iniciam a puberdade antes dos meninos, em média aos 12 anos de idade, e o estirão acontece no início. Já os meninos apresentam o estirão no final da puberdade, em média aos 14 anos, têm um pico de velocidade de crescimento maior do que as meninas e são em média, 13 cm mais altos do que elas. O estirão dura em média três anos, e a idade da parada do crescimento depende do momento em que o adolescente iniciou a puberdade. No caso das meninas, o pico da velocidade de crescimento acontece antes da menarca (primeira menstruação), em média aos 12 anos e a partir daí desacelera. Nos meninos o estirão ocorre mais tardiamente (em média aos 14 anos) e o pico de velocidade de crescimento é maior – diz a médica.
Para manter um crescimento adequado, é necessário se alimentar bem. A nutrição tem papel fundamental neste processo.
– O crescimento adequado depende da boa saúde física e mental e, consequentemente, de nutrição adequada. A deficiência de nutrientes, especialmente em momentos de maior crescimento como os dois primeiros anos de vida, pode repercutir definitivamente no crescimento e na altura final. Um exemplo é a anemia por deficiência de ferro, principal carência nutricional no mundo e muito comum no nosso país. Hábitos alimentares saudáveis garantem o aporte de nutrientes essenciais para adequado crescimento e desenvolvimento. Por exemplo: 99% do cálcio do nosso organismo se encontra no osso. Nos períodos de maior crescimento, portanto, as necessidades diárias de alimentos ricos neste mineral estão aumentadas como leite e derivados. O zinco, outro mineral que desempenha papel importante no crescimento, está presente nas carnes. A deficiência deste mineral, assim como o ferro, causa desaceleração do crescimento com impacto na estatura adulta. Portanto, para que a criança atinja todo seu potencial de crescimento é fundamental que tenha uma alimentação variada que contemple todos os grupos alimentares – destaca Mônica Moretzsohn.
Esportes favorecem a saúde, mas não definem o tamanho. Jogar basquete desde pequeno não quer dizer que a criança atingirá 1,90m na juventude.
– A prática de atividade física visa o condicionamento cardiorrespiratório, a tonificação muscular, a manutenção do peso, promoção da saúde óssea e prevenção das doenças crônicas como diabetes, obesidade, hipertensão. Além disso, proporciona bem-estar mental, maior socialização, maior auto estima e confiança. Diferentes modalidades esportivas não têm efeitos específicos no sentido de aumentar ou diminuir a altura final. Durante a atividade física, a contração muscular promove um aumento da atividade osteoblástica, células que formam o osso, levando ao aumento da mineralização óssea. O treinamento de força com impacto (por exemplo, corrida, ginástica, dança, basquetebol, atletismo) proporciona maior incremento da densidade mineral óssea comparado ao de resistência aeróbica (natação, polo aquático), porém ambos aumentam a densidade óssea em comparação a não realização de qualquer destas atividades. Outra questão diz respeito a determinados esportes que aumentam a estatura, enquanto outros diminuem. O fato de indivíduos altos jogarem basquete e baixos praticarem ginástica se deve tão somente a um viés de seleção no qual os atletas são escolhidos com base no biotipo que possa levá-los a melhores resultados. Porém o excesso de atividade física (36 horas/semana) em crianças pré-púberes pode comprometer a estatura final – avalia Mônica.
Alimentação variada, atividade física e adequadas horas de sono colaboram para um crescimento saudável. Até existem tratamentos para promover o crescimento, mas só para casos em que o problema está relacionado a hormônios, como explica o endocrinologista Isaac Benchimol, especialista em dificuldade de crescimento.
– Substituímos cada hormônio que esteja faltando ou com resposta diminuída. Hormônio do crescimento, hormônios sexuais, hormônio da tireoide. Estimulamos uma dieta rica em proteínas, pobre em doces e rica em atividade física – diz o médico, lembrando que esse tipo de problema não é frequente. – A deficiência de hormônio do crescimento é muito pouco comum. A maioria dos baixos é por deficit nutricional e baixa atividade física no período inicial das suas vidas.
Ainda segundo Benchimol, a suspeita clínica de que há problemas no crescimento é do pediatra. O endocrinologista é o responsável por pedir os exames e confirmar a suspeita diagnóstica, avaliando cada hormônio mais de uma vez. Ele ressalta também que não é recomendável fazer o tratamento depois da fase do crescimento:
– Não adianta tratar após idade cronológica ou idade óssea acima de 18, 19 anos. A despesa vai ser grande e o ganho em altura muito pequeno – avalia.