Obesidade infantil e os malefícios do excesso de açúcar para a saúde
Fala-se muito em obesidade infantil e há, de fato, grande preocupação de médicos e nutricionistas com a saúde de crianças muito acima do peso. Mas uma dieta balanceada, rica em nutrientes e, principalmente, pouco açúcar não se limita à questão. Hábitos alimentares saudáveis valem para todas as crianças. Nutricionista da maternidade Perinatal, Graziela Siqueira ressalta que o malefício do açúcar vai além do sobrepeso.
– Mesmo a criança não apresentando sobrepeso ou algum grau de obesidade, é importante não permitir o consumo indiscriminado, pois o açúcar traz malefícios não somente na composição corporal, mas também na comportamental e cognitiva. Então, não ache que seu filho não estando ainda sobrepeso ou obeso estará livre dos malefícios do consumo do açúcar – orienta a nutricionista.
Açúcar em excesso – Evite produtos industrializados
Segundo Graziela, os produtos industrializados são grandes vilões da alimentação infantil:
– Os pais devem se atentar para os alimentos industrializados que contém açúcares presentes muitas das vezes “escondidos” em nomes que não remetem diretamente ao açúcar (sacarose, glucose, frutose, lactose, galactose, dextrose, xarope de glicose, mel, melaço entre outros). Biscoitos, cereais matinais e bebidas prontas são uns deles.
O ideal é não oferecer este tipo de alimento aos bebês. Quanto mais cedo for criado o hábito saudável, melhor.
– A melhor maneira de evitar que isso vire um problema futuro é não oferecer açúcar já nos dois primeiros anos de vida. A nossa tendência é preferir sempre o estímulo do doce, desde o aleitamento materno, onde o leite já tem sabor adocicado. Já na introdução alimentar, proporcionar que a criança sinta o verdadeiro sabor de cada alimento oferecido, como o doce das frutas por exemplo. No decorrer da infância esse “hábito” de consumir os alimentos in natura, será estimulado, pois as papilas gustativas não se acostumarão com nenhum excesso adicional de açúcar. O contrário também é verdadeiro. Oferecendo alimentos adicionados de açúcar como os industrializados ou até mesmo preparações caseiras com açúcar, as papilas gustativas irão se acostumar com esse paladar mais doce. Aí fica realmente difícil retroceder, dá trabalho, fora que esse estímulo ao doce atrapalha aceitação de novos alimentos e sabores – explica Graziela.
Açúcar em excesso: Corte, aos poucos, o açúcar da dieta
Mas se a criança já consome muito açúcar, não se desespere. Mudar o hábito é difícil, mas não impossível. O melhor é fazer as mudanças aos pouco e entender que o processo pode levar tempo.
– Quando já instalado o “problema” e há necessidade de uma mudança de hábitos, o ideal é fazê-lo aos poucos, sem extremismos. Porém o contexto familiar é a primeira coisa a se avaliar. A criança se comporta de acordo com quem a educa e convive com ela, logo, será reflexo das ações dos pais em todos os sentidos, inclusive nos hábitos alimentares. O tempo para o organismo se adaptar varia, mas a persistência das mudanças fortalece a adesão e não tende a aceitar o mesmo paladar viciante do início – orienta a nutricionista.
Criança (e adulto) que come muito doce costuma ter mais vontade de comer doce, e isso acontece porque o açúcar estimula o cérebro a liberar substâncias relacionadas ao prazer.
– Essa estimulação gera dependência e te faz consumir cada vez mais. Fora que ao consumir doce em excesso, gera uma a produção elevada de insulina (hormônio responsável por permitir a entrada da glicose – açúcar – nas células, onde a substância será usada como energia). Quando o açúcar não é utilizado, a insulina promove seu estoque na forma de gordura corporal, ganhando-se peso extra. Então, o ideal é não estimular tanto esse hormônio que está ali querendo fazer o importante trabalho dele, consumindo menos o que o estimula, o açúcar e carboidratos simples em geral – recomenda Graziela.
E é essa dependência no organismo que dificulta a reeducação alimentar, e pode causar aquelas birras básicas…
– A retirada brusca do açúcar pode gerar algo parecido com abstinência e o organismo que antes tinha o estímulo do prazer pelo consumo do doce, agora se encontra sem esse estímulo, gerando intolerância à essa nova condição. Com isso temos reações diversas comportamentais como irritabilidade e inquietude nas crianças inclusive – diz Graziela, alertando para situações muito comuns que estimulam o consumo de açúcar – Muito comum na infância, por questões do próprio desenvolvimento, a criança que antes comia de tudo, passar a não comer nada. Os pais, no desespero, tentam “compensar” a criança com guloseimas e presentes. Isso além de gerar déficits nutricionais, atrapalha a relação da criança com os alimentos, gerando problemas futuros na idade adulta. Caso ela esteja rejeitando certos alimentos, procure ver se é um grupo inteiro desse alimento. Caso não seja, ofereça de formas e preparos diferentes e faça o rodízio entre eles.
Confira algumas dicas da nutricionista Graziela Siqueira para uma alimentação mais saudável para as crianças:
– Trocar o açúcar refinado das preparações por frutas secas trituradas para adoçar um bolo por exemplo;
– Evitar oferecer frutas em formas de sucos, onde não há tanta fibra presente e há mais frutose (açúcar da própria fruta). Substituir por água saborizada com frutas por exemplo.
– Substituir o achocolatado por cacau;
– Biscoitos e bolos industrializados por caseiros com ingredientes mais saudáveis;
– Inserir a criança na escolha dos alimentos (leve-a à feira e hortifruti);
– Cozinhar com a criança a aproxima da comida. Ideal é aproveitar esse momento para correlacionar os alimentos com desempenho dela na escola, no esporte e no crescimento saudável. A educação nutricional começa em casa, sempre!
– A memória afetiva que construímos na infância deverá ser com alimentos saudáveis;
– Sentar-se junto à mesa (comensalidade) estreita o vínculo da criança com a comida e à família;
– Dividir aquela sobremesa dos finais de semana com os integrantes da mesa;
– Evitar comprar guloseimas, deixando seu consumo para eventos como festas e comemorações em geral;
– Quando for à festas, lanchar ou jantar antes de sair de casa, isso evita “matar a fome” com possíveis alimentos extremamente calóricos e sem densidade nutricional comuns nesses eventos.
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