Para muitos, o momento é de volta às aulas, de reencontrar amigos e retomar os estudos. Mas o começo do ano letivo é também uma novidade para várias crianças, e nem todas elas se acostumam rápido com a rotina de ir para a escola. O período de adaptação não é um simples intervalo de tempo, mas uma fase importante no processo da educação infantil.
Nem sempre é fácil ou rápido vivenciar a adaptação escolar. Algumas crianças choram apenas nos primeiros dias, outras podem levar meses. E o choro não é o único sinal. Alterações de sono, apetite e humor podem estar associadas à mudança da rotina fora de casa.
– O processo de adaptação de cada criança é único. Algumas podem se ajustar rapidamente, enquanto outras podem demorar mais. A chave é a paciência, o apoio e a compreensão dos pais e educadores. Preparar-se e preparar seu filho com antecedência, além de manter um ambiente doméstico estável e de apoio, são cruciais para uma adaptação bem-sucedida à pré-escola – explica a educadora Andrea Buffara, sócia-diretora do Rio Learning Studio.
Adaptação escolar – Momento que afeta a família também
E nem sempre o período de adaptação é algo que afeta apenas a criança. Muitos pais também sofrem e ficam receosos.
– A adaptação escolar, especialmente para crianças menores de 4 anos, é sempre um período bastante conturbado para as famílias. A incerteza e a angústia sobre a dúvida se o filho vai se adaptar ou não preocupa muitos – diz a pediatra Anna Bohn, da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP).
O choro na porta da escola pode deixar os corações de mamães e papais apertados, mas não há motivo para maiores preocupações.
– Se seu filho fica bem enquanto está lá e, quando você chega na escola, ele está feliz, acalme seu coração. O choro na partida, na entrega da criança na escola, é super comum. Mas, se isso passa rapidamente e logo a criança está feliz, brincando, socializando, está tudo bem – tranquiliza a pediatra, reforçando a importância de os pais terem confiança na escola. – Escolha uma escola que tenha os mesmos valores que você e siga firme, que todo mundo vai se adaptar.
Adaptação escolar – O papel da escola
Diretora acadêmica da rede Maple Bear, Antonieta Megale destaca também o planejamento das escolas para uma boa adaptação das crianças e dos pais, e a importância de treinamentos e reuniões de alinhamento pedagógico da equipe educacional a fim de proporcionar uma integração mais eficiente.
– É ideal que a instituição faça com a equipe escolar um momento de alinhamento pedagógico no início do ano letivo bem como reuniões com os pais para que possam conhecer os professores e tirarem dúvidas sobre o ano que se iniciará. Também é importante que haja um momento para famílias que estão chegando, para que possam apresentar o manual da família, a estrutura da escola e questões operacionais. É crucial que a família esteja ciente e segura durante todo o processo – afirma.
Confira as dicas de cada uma das profissionais para uma adaptação escolar segura e tranquila.
Condutas sugeridas pela pediatra Anna Bohn:
Segurança na decisão: É importante que se esteja certo de que este é o processo necessário. É necessário confiar e escolher a escola que, de fato, acalma o coração. E aqui tem uma certa subjetividade bastante importante: precisa “dar liga”, aquela questão sensível de “bater o santo”. Isso porque a criança precisa fazer novos vínculos e a confiança nesses novos vínculos será garantida pela confiança de quem cuida dela, principalmente para crianças abaixo de dois anos. Nesses casos, a pessoa na escola que será a figura de referência de cuidado para a criança tem que inspirar a máxima conexão.
Símbolos de segurança: Leve um objeto de apego. É muito comum as crianças se tranquilizarem quando chegam à escola e têm consigo alguma coisa que remeta à casa ou que traga tranquilidade. Pode ser uma naninha, um paninho, uma coberta ou um brinquedo que ele gosta muito. É muito importante que a escola não só sugira isso, como aceite isso nessa adaptação.
Despedidas rápidas: Passado o momento de adaptação inicial, que gira em torno de uma semana a 15 dias, não prolongue demais o momento de se despedir ao deixar a criança. Quanto mais prolongada a despedida, mais prolongado o choro, e mais a criança fica confusa.
Previsibilidade de rotina: Converse muito com a criança, explique bem o que vai acontecer antes de chegar à escola; onde você vai deixá-la; quem vai buscá-la mais tarde e repita isso consistentemente. Quanto mais ela for lembrada da sua própria rotina, mais facilmente as atividades serão sedimentadas e, com isso, maior tranquilidade.
Conexão escola-casa: Tente entender quais atividades a criança fez na escola naquele dia e converse sobre elas em casa. Isso a ajuda a entender que você também faz um pouco parte daquele universo.
Dicas da educadora Andréa Buffara, sócia-diretora do Rio Learning Studio, para facilitar a entrada das crianças na vida escolar:
Preparar a Criança: Apresente a ela o conceito de escola, mostre fotos da escola e do pessoal e discuta o que um dia típico pode envolver.
Desenvolver independência e habilidades sociais: Incentive a independência e as interações sociais em casa para facilitar a transição.
Introdução gradual: Comece com períodos curtos na escola e aumente gradualmente a duração.
Criar estabilidade em casa: Evite outras mudanças importantes durante esse período e garanta um ambiente doméstico tranquilo.
Atenção de qualidade: Passe tempo de qualidade com seu filho, oferecendo apoio e tranquilidade.
Gerenciar suas emoções: As crianças podem perceber a ansiedade dos pais, então é importante manter a calma e a positividade.
Ritual de despedida: Estabeleça uma rotina de despedida consistente e breve.
Comunicação honesta: Seja claro sobre quando você retornará e evite fazer promessas irrealistas.
Reforço positivo: Fale sobre os aspectos agradáveis da escola, como jogos e atividades.
Levar para a escola um objeto de conforto: Permitir que a criança leve um brinquedo favorito pode proporcionar conforto no novo ambiente.
Orientações da diretora acadêmica da rede Maple Bear, Antonieta Megale:
Segurança – Caso a criança apresente resistência, a família deve conversar com o filho(a), ajudando a nomear as emoções e explicando o que pode ser feito para ele se sentir mais seguro.
Passe tranquilidade – Os pais podem dizer que também já passaram por isso, que eles se lembram de sentir medo, mas que durante a jornada fizeram muitos amigos e que valeu a pena. Essa é uma oportunidade para ouvir a criança, acolher os sentimentos e buscarem juntos como tornar esse momento mais leve.”
Interesse pela rotina da criança na escola – Ao final do dia na escola, a família deve ouvir a criança e mostrar interesse em seu dia com perguntas que possam ser desenvolvidas pela criança – “Com quem você brincou hoje?”, “Você ajudou alguém?”, “O que você pode me contar que você aprendeu hoje?”, “Você foi gentil com alguém? Como?”. Esse momento é crucial e fará diferença em todo o processo, não só de adaptação, mas também na própria relação entre pais e filhos.
Foto em destaque: Foto de divulgação Maple Bear