Educação

Adultização infantil

Meninos e meninas já não se comportam mais como crianças. A pedagoga Andrea Rodrigues reflete sobre o tema

No último sábado senti uma enorme emoção. Minha filha participou de uma apresentação de balé e sapateado. Foi uma alegria poder participar desse momento tão especial.

Arrumei sua roupa, separei os acessórios, cuidei do seu cabelo e maquiei levemente o seu rosto.

Tudo parecia perfeito e mágico. Mas quando cheguei ao teatro e fui para a coxia, a “vida real” apareceu! Correria, agitação e nervos à flor da pele! Até aí tudo bem, pois era o grande momento. O resultado do trabalho de um ano inteiro. A ansiedade tomava conta de nós. Eu, Letícia e toda família não víamos a hora do espetáculo começar e ver a nossa pequena bailarina brilhar.

Porém, ocorreu um atraso e acabei ficando mais tempo coxia e foi aí que comecei a perceber outra realidade.  Crianças de no máximo 12 anos, na maioria meninas, participando de 4 ou 5 danças diferentes. Sem tempo para comer, descansar, sem tempo para “respirar”. Meninas de 15 anos participando de danças sensuais do tipo “Moulin Rouge”, com maquiagem forte, roupas apertadas, curtas e decotadas. E foi nesse momento que me perguntei: Onde estão os pais ou a família dessas crianças?! Por que permitem que isso aconteça?!

Minha intenção não é julgar ninguém, até porque situações assim são cada vez mais comuns.  O difícil é entender como alguém pode achar que isso é natural. Com o meu olhar de mãe e minha experiência como profissional, afirmo com toda segurança que esse não é o caminho. E mais, seguir esse caminho pode ser perigoso e sem volta.

Os exemplos citados acima mostram claramente como a nossa sociedade estimula a adultização infantil. Crianças pequenas com a agenda lotada. Além da escola, frequentam aulas de dança, línguas, informática, teatro, capoeira, futsal e outros. O problema não está em fazer uma atividade extra. Muito pelo contrário, estudos mostram que as atividades extras aprimoram o desenvolvimento da criança. O problema está no acúmulo de atividades. A quantidade exagerada de compromissos sobrecarrega a rotina das crianças e leva a um esgotamento físico e mental digno de um adulto.

Além disso, meninos e meninas já não se comportam mais como crianças. As meninas querem usar maquiagem, fazer escova, usar salto alto e dançar de forma sensual. Os meninos, por sua vez, querem se comportar como homens, ingerindo bebidas alcoólicas e cantando músicas com palavras agressivas e até mesmo palavrões.

Onde vamos parar permitindo que nossas crianças se comportem dessa forma?!

Minha filha não está alheia a isso tudo, muito pelo contrário, é uma luta diária convencê-la a seguir o caminho que escolhi, pois as influências externas são gigantescas. Televisão, vizinhança, músicas… Todos parecem ir para o caminho contrário. Mas com muita paciência, diálogo e, principalmente, com exemplos tento mostrar para a Letícia que podemos ser feliz de outra forma.

Quando as luzes se apagaram e o espetáculo começou, só tive olhos para minha pequena bailarina, que já não estava tão impecável assim. Suas meias e sapatilhas estavam sujas, pois para driblar o atraso brincou com as amiguinhas. Mas quem ligou pra isso?! Ela se divertiu como ninguém e nos encheu de orgulho. Fazendo-me lembrar… Como é bom ser criança!

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