Histórias de mulheres que engravidaram depois de diagnósticos que apontavam dificuldade para gestação
Ser surpreendida por uma gravidez natural depois de um diagnóstico de infertilidade ou de algum problema que impeça ou dificulte a gravidez. Ver a barriga crescer novamente poucos meses depois de perder um bebê antes do nascimento. Não são poucos os exemplos de mulheres que realizaram o sonho da maternidade depois de terem vivido frustrações relacionadas à gestação.
Quem faz ou já fez tratamento para engravidar conhece bem todos os sentimentos que envolvem a espera pela maternidade. Frustração, expectativa, esmorecimento, motivação, dor, alegria, enfim, um carrossel de emoções. Além disso, conta o próprio fato de ser necessário fazer algum tratamento para engravidar. A jornalista Elisa Lopes Torres passou por tudo isso antes de dar à luz Isadora e Miguel, ambos de gestações naturais.
– Em 2003, tive uma gravidez na trompa direita. Sempre sofri com síndrome de ovários policísticos e o medicamento Clomid, receitado por uma médica que não era minha obstetra de costume, era super contraindicado no meu caso. Estimula a ovulação. Acabei engravidando na trompa e perdi a trompa e o neném. Logo em seguida, precisei fazer os exames histerossalpingografia e videoesteroscopia, que diagnosticaram a minha infertilidade. A trompa restante não tinha passagem e estava com sinéquia, uma aderência que impede o seu funcionamento. Diante desse diagnóstico, e como eu queria muito ser mãe, parti para uma primeira tentativa de Fertilização in Vitro com a equipe do querido Isaac Yadid, na clínica Huntington, na Lagoa. Um processo desgastante, psicologicamente falando, com fases de ultrassonografias e exames de sangue quase diárias, injeções hormonais etc, e uma baita expectativa – conta Elisa, que fez três tentativas, implantando quatro óvulos fecundados em cada uma das vezes, sem sucesso.
Exatos dois meses depois de parar com os tratamentos, Elisa engravidou naturalmente.
– Estava tudo tranquilo até o momento em que, aos seis meses de gestação, durante uma viagem, tive perda de líquido, secreção e sangue. Eu não sabia, mas estava perdendo o bebê. Na volta ao Brasil, fiz ultrassonografia morfológica, e estava tudo certo com o feto, embora eu estivesse com dilatação total. Dez minutos depois de chegar, e me deitar, seguindo as orientações médicas, a bolsa estourou. Vi meu sonho ir embora. Quarto, enxoval, tudo pronto, para um bebê muito esperado. Isabel (descobrimos o sexo na hora do parto) nasceu com 400 gramas e pouquinho, natimorta. Foi horrível, mas papai do céu nos brindou prontamente com outra gravidez, quase dois meses depois, o tempo de duração do meu luto. E assim nasceu Isadora, em setembro de 2006. Ficamos muito, muito felizes. A maternidade é a aventura mais radical que eu já vivenciei na minha vida, mas é também a mais fascinante. Miguel também foi concebido naturalmente e nasceu em março de 2009. Nunca vi uma trompa ruim funcionar tão perfeitamente – avalia.
Apesar das dificuldades iniciais, Elisa não passou as gestações de Isadora e Miguel com medo. Ela conseguiu curtir todos os momentos da gravidez e costuma dizer que foi a fase mais linda de sua vida:
– A gravidez do segundo filho foi muito tranquila. Mas quem disse que a primeira também não foi? Pelo meu histórico, a família, os amigos e as pessoas do nosso convívio estavam mais desesperadas do que eu. Todos temiam que a história triste se repetisse. E incrivelmente isso nunca passava pela minha cabeça. Mas eu sou assim mesmo, muito tranquila. Engordei bastante, nunca fui a grávida exemplar nesse sentido, mas não tive quaisquer problemas gestacionais, como diabetes ou hipertensão. Fui uma grávida muito feliz, das duas vezes. E teria outro filho hoje. Simplesmente adoro todo o processo, fase da minha vida em que eu me sinto mais plena, capaz e bonita.
Também foi com muita tranquilidade que a jornalista e professora Andrea Antunes passou os nove meses à espera de Arthur. Mas descobrir-se grávida, aos 38 anos, foi uma grande surpresa. Ela tinha sido orientada por uma médica a fazer um tratamento para engravidar quando estava com 27 anos.
– Ser mãe era um dos meus planos para o futuro. Então, procurei uma médica para saber como estava. Depois de alguns exames ela disse que eu não ovulava, mas não era estéril e que no caso de querer engravidar precisaria fazer um tratamento. Como não tinha pai para o meu futuro filho e não alimentava a ideia de ser mãe solteira, deixei isso de lado. Pouco tempo depois, comecei um relacionamento sério, mas tomava pílula porque acho que a paternidade não pode ser imposta. Eventualmente esquecia, mas não me preocupava muito porque a médica havia dito que precisaria fazer tratamento. Para minha surpresa depois de oito anos de relacionamento me descobri grávida – conta Andrea, que não associou em nenhum momento o mal-estar que sentia com os enjoos tão comuns em início de gravidez. – Descobri porque estava com dificuldade para fazer a digestão. Marquei até um gastro. Minha irmã disse que eu poderia estar grávida, então comprei o teste de farmácia que deu positivo. Depois confirmei com o exame de sangue.
Os enjoos foram os únicos inconvenientes da gestação.
– Apesar de ser uma gravidez tardia, foi muito tranquila. Trabalhei até a véspera de ganhar o Arthur. Etava com 38 anos e foi uma maravilhosa surpresa. Na verdade, acho que foi a manifestação de milagre. A presença de Deus em minha vida – diz Andrea.
Tania Silva, de 64 anos, já tinha uma menina de 2 anos e meio, quando perdeu o bebê que esperava com seis meses de gestação. O baque seria ainda maior com o diagnóstico médico: um útero comprometido para uma nova gravidez.
– Eu queria ter um outro filho, e fique triste. Mas já era mãe e não pensei mais nisso. Não fiz nenhum tipo de prevenção por conta do diagnóstico. Por isso, fiquei bastante surpresa quando engravidei doze anos depois – conta Tania,
Surpresa e preocupada. Afinal, Tania tinha muito medo de que a história se repetisse. Além disso, estava receosa com a idade, pois já estava com 35 anos.
– Eu tive que fazer repouso e foi uma gravidez cercada de muitos cuidados. Comecei a ter um sangrameto quando estava com dois meses de gestação. Precisei tomar remédios e injeções, mas deu tudo certo – lembra Tania, mãe de Vania, de 42 anos, e Bruna, 30.