Confira a entrevista com a psicomotricista Anna Paula Freitas sobre os estímulos em diferentes faixas etárias
Criança tem que brincar. Com suas cores, formas e sons, os brinquedos têm papel fundamental no desenvolvimento da coordenação motora e da linguagem dos pequenos, desde muito cedo. A psicomotricista Anna Paula Freitas, do Centro de Desenvolvimento Infantil Coorujando, conversou com o Quem Coruja e orientou que tipos de estímulos devem ser dados a crianças em diferentes faixas etárias. Confira a entrevista:
Quem Coruja: Cada criança tem seu tempo de desenvolvimento? De que formas os pais podem estimular seus filhos para que se desenvolvam adequadamente?
Anna Paula Freitas: Cada criança apresenta um padrão peculiar de desenvolvimento e este segue marcos de normalidade. Sabemos que cada ser é único e esse desenvolvimento é amplo e global, levando em consideração a história familiar e os estímulos que são oferecidos a ele. Vale brincar, conversar, contar histórias, fazer massagens, beijar e abraçar. Toda demonstração de carinho ficará armazenada na memória da criança como o amor dos pais e será fundamental no desenvolvimento motor e de linguagem.
Quem Coruja: Poderia explicar, em linhas gerais, quais os principais momentos de desenvolvimento e como devem ser estimulados? No caso dos recém-nascidos, por exemplo?
Anna Paula Freitas: Um recém-nascido é um ser surpreendente. Cada hora tem uma novidade. Com um mês, em geral, a criança levanta a cabeça, olha para os lados, reage a sons, olha fixo para rostos e consegue enxergar objetos de 15 a 20 cm. Nesse momento, os brinquedos ideais são os leves e sonoros, como chocalhos, pequenas maracas, sempre coloridos, de preferência com as cores primárias para que a criança inicie o olhar atento.
Quem Coruja: E de três a seis meses?
Anna Paula Freitas: Com 3 meses, o bebê sustenta a cabeça e a levanta em ângulo de 45 graus, vocaliza alguns sons e aos poucos contatos sociais ocorrem. Rolam de um lado para o outro e por isso os cuidados na cama devem ser redobrados. Reconhece o rosto, a voz e o cheiro da mãe, brinca com gritinhos e barulhos e já leva objetos à boca. Nesse momento, músicas e brincadeiras cantaroladas, ritmadas são bem-vindas, pois eles interagem. Brinquedos coloridos e móbiles – estes a um palmo do alcance das mãos -, para o banho, e com som de bichinhos são boas dicas. Nesta fase, a criança deve ir muito mais ao chão, e para isso, recomendamos um tapete de eva liso. Ela deve ser estimulada com poucos brinquedos – porém que chamem a atenção -, para que busque corporalmente aquele objeto. É importante também lembrar de fazer uma brincadeira de cada vez. Se estiver assistindo a um DVD, melhor estar sem brinquedos por perto. Quando estiver brincando, apenas um tipo de brinquedo (sonoro, visual ou motor – recomendados para esta faixa etária) por vez. Com 6 meses, a criança deve sentar sozinha, sem apoio, virar na direção dos sons, ser capaz de rolar nas duas direções e esticar os braços para pegar objetos.
Quem Coruja: Como estimular uma criança entre 6 e 9 meses? E, depois, dos 9 aos 12 meses?
Anna Paula Freitas: Nesta fase, devemos estimular o buscar da criança. Ela deve começar a se arrastar para conseguir pegar objetos mais distantes, e aos poucos, vai passar a engatinhar. Com esta idade já diz ‘papa’, ‘mama’, faz gracinhas corporais, dança sentado, começa a sentir medo e fica inseguro com a saída da mãe. Brinquedos de rolar, como bola, rodas, e outros circulares são bem-vindos para que queiram pegar e voltar, estimulando esse engatinhar que é uma importante função motora que precede o andar. A criança que engatinha é mais coordenada. O engatinhar correto é o cruzado, em que o bebê coordena o braço com a perna do lado oposto, o que o torna mais ágil e o prepara para movimentos mais refinados.
De 9 a 12 meses, inicia-se a fase mais rica do desenvolvimento da criança na primeira infância. Ela começa a ficar de pé sozinha, combina sílabas em sons que parecem palavras, reconhece sua imagem no espelho e reage com alegria quando se vê. Dá tchau, responde ao nome, sobe nos móveis – e por isso é preciso retirar todos os objetos perigosos de perto -, imita ações, aponta o que quer, conhece e reconhece as pessoas que cuidam dela. Começa a andar com mais firmeza. Os brinquedos devem ser livres: bolas coloridas, carros, bonecas… Os pais devem estimular que a criança vá buscar os brinquedos. Andadores não são aconselháveis, pois prejudicam o desenvolvimento psicomotor da criança.
Quem Coruja: E acima de um ano de vida, que brinquedos e brincadeiras devem ser feitas?
Anna Paula Freitas: Depois de um ano, os brinquedos de madeira são excelentes estimuladores. De 1 a 3 anos, podemos citar o velotrol, bicicleta, bolas de diversos tamanhos e texturas, boliche gigante, brinquedos de encaixar, bonecos de personagens, entre outros. De 3 a 5 anos, devemos estimular além das brincadeiras com bastante movimentação, a concentração dos pequenos, com livros de encaixar, texturas, quebra-cabeças com poucas peças, jogo da memória, jogos de tabuleiro, boliche menor, mímica, faz de conta. É bom fazer a criança experimentar um pouco de tudo. Aos seis anos, a criança inicia o processo de alfabetização. Sendo assim, devemos estimular a leitura por meios diferenciados. Uma lousa que a criança possa escrever sem ser corrigida, desenhar e descobrir o prazer da leitura e da escrita, por exemplo. Os pequenos devem ser estimulados a brincar sempre. Pois brincar é a linguagem da criança, é a maneira mais intensa de expressão e liberdade.
Quem Coruja: E com relação à videogames? A partir de que idade é adequado? o que ajuda a desenvolver?
Anna Paula Freitas: Os jogos eletrônicos são benéficos para a infância desde que a criança não deixe de brincar com objetos e brinquedos que possibilitem a movimentação também. Eles ajudam na concentração, na coordenação viso-motora, auxiliam o estudo da matemática e da interpretação de texto. Por todos esses motivos, a criança só deveria ter acesso a esse tipo de jogo com 7 anos, quando já lê de forma segura e é capaz de compreender o que é real e fantasia. É claro que existem jogos adaptados a primeira infância, mas os pais devem priorizar brinquedos que a criança se movimente, para não atrapalhar seu desenvolvimento motor, e também para evitar que fique viciada em jogos.
Quem Coruja: É verdade o que dizem que, em geral, o desenvolvimento dos meninos na pequena infância é um pouco mais lento?
Anna Paula Freitas: As questões de gênero são sempre polêmicas na infância. Realmente há diferenças entre meninos e meninas tanto hormonalmente quanto neurologicamente. Mas essas diferenças são relativas também ao ambiente em que a criança vive, assim como a forma como é estimulada. O Centro de Desenvolvimento Infantil Coorujando aposta na Teoria das Inteligências múltiplas, pois entendemos que a criança demonstra diversas formas de manifestação de aprendizagem. As brincadeiras propostas são o alicerce para uma infância privilegiada de experimentação de papéis. O fato é que culturalmente as brincadeiras de menino são mais motoras, fazendo que sua visão espacial seja mais refinada, por exemplo. O importante é não criar expectativa em cima dessa afirmativa, cada criança é de um jeito, seja menina ou menino. Descobrir sua inteligência diferenciada é o que vai possibilitar um caminho de potencial da criança.
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Adorei as dicas…
Particularmente frequento o Centro Coorujando e percebo a importância dos estímulos, meu filho hj com 1a e 10m está bastante eaperto e cada vez interagindo mais conosco.