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A chegada ao ensino fundamental

A jornalista e advogada Carolina Bessa fala dos desafios do primeiro ano do ensino fundamental

Seu filho termina a educação infantil, você comemora feliz o cumprimento de uma etapa. Grande parte das escolas faz uma festa de formatura como um rito de passagem e você constata que seu bebê já saiu oficialmente da primeira infância. Ainda assim, eu achava que a chegada ao ensino fundamental era muito natural, normal, nada demais. Isso, até meu filho começar essa nova fase.

Comecei a perceber quantas coisas mudam na vida daquela criaturinha de 6 ou 7 anos, que até meses atrás podia brincar mais no parquinho da escola, dormir durante a aula se quisesse, e dividia uma mesa com os colegas de turma. Nem todas as escolas adotam as mesmas linhas pedagógicas, é fato, mas as mudanças, na maioria das vezes, ocorrem e são sentidas pelas crianças.

Aqui em casa tenho dois exemplos. Meu filho, no primeiro dia de aula do primeiro ano do ensino fundamental levou um susto quando viu todas as carteiras viradas para o quadro. Não sabia nem como sentar direito naquela cadeira que vinha com um braço e pulou por cima dele para se acomodar. Ao mesmo tempo, minha diarista tem um filho da mesma idade e o impacto maior foi o fato de não poder mais dormir na escola. Aquela sonequinha no meio da tarde, já não é permitida. De apaixonado pela escola, o menino passou a chorar porque não mais queria estudar.

Mudança de hábitos e introdução de novos conteúdos. É nessa fase que as crianças também estão começando a aprender a ler e a escrever. Mais uma vez, achava que isso ocorria de forma natural e tranquila. Não lembro de ter passado por nenhuma dificuldade na alfabetização. Entretanto, as crianças de hoje sofrem uma pressão para que logo a concluam. Há escolas que começam a ensinar letra cursiva aos 4 anos de idade e outras já querem crianças de 5 anos sabendo ler e escrever algumas palavrinhas.

Eu procuro não apressar o aprendizado do meu filho, quero que seja o mais leve possível. Só que, ao mesmo tempo, a cobrança da escola é maior, com uma quantidade significativa de trabalhos de casa e o início de outra temida mudança: as avaliações. Aos cinco anos (poucos dias antes de fazer seis), eu sentei à mesa para estudar com ele sobre seres vivos, números, encontros vocálicos e hábitos de higiene. Claro, tudo bem básico, mas que começa a ser cobrado em testes que valem pontuação.

Na sala do meu menino, uma amiguinha ficou tão impactada com a história de ter provas, que, a cada vez que alguém batia na porta da sala, ela se apavorava, achando que era a temida hora de ser avaliada. Na verdade, a garotinha não estava entendendo muito bem o que é uma prova, um teste, uma avaliação. Na cabecinha dela, era quase um monstro que poderia engoli-la a qualquer momento se não desse a resposta correta.

Para mim, como mãe, isso tudo tem sido um grande desafio: encontrar a medida de ensiná-lo a crescer com as dificuldades e aprender sobre as novas responsabilidades, entretanto, sem pressioná-lo para que obtenha os melhores resultados e estude exaustivamente. Até porque, penso que nessa idade, a criança precisa ter seu tempo para brincar, se divertir com os amigos, ser criança de fato. Se agora, a escola torna-se enfadonha, chata e autoritária, o processo de aprendizado ficará cada dia mais difícil. Afinal, o primeiro ano é só o começo de uma longa estrada;

Carolina Bessa é mãe de Max e Letícia

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