É importante conversar com as crianças sobre a pandemia de Covid-19 e o isolamento
Escolas fechadas, crianças dentro de casa sem poder brincar com amiguinhos e familiares. Muitos pais se adaptando ao formato home office. Outros sem poder trabalhar e amedrontados com o desemprego. Todos se readaptando ao cenário imposto pelo isolamento social, que tem como objetivo evitar o contágio em massa de Covid-19 e, assim, não sobrecarregar o sistema de saúde. Mudanças e preocupações que acabam afetando o relacionamento com as crianças. Afinal, qual a melhor maneira de administrar essa situação? Como distraí-las? Como manter uma rotina de estudo? Como fazê-las entender a necessidade do silêncio? Como conversar com elas a respeito dos acontecimentos? São muitas perguntas de ordem prática, para as quais não existem “resposta certa”. Questionamentos que só são válidos se compreendermos que cada caso é um caso, e tudo pode ir se ajustando com confiança e bom-senso.
Converse com as crianças sobre o isolamento social e Covid-19
– O primeiro passo de combate é informar a criança sobre a realidade mundial da pandemia do Covid-19, levando em consideração sempre a faixa etária e o entendimento singular e a curiosidade do pequeno. Os educadores precisam se comunicar de forma objetiva e clara e ter cuidado para não causar pânico. Lembre-se de dar informações gerais e de que crianças pequenas muitas vezes desejam informações breves. Evite o exagero da mídia e sempre transmita esperança e positividade – recomenda a psicóloga Juçara Vianna, que escreveu um texto sobre o assunto, respondendo a algumas perguntas do Quem Coruja.
Tão importante quanto o diálogo é buscar as formas de administrar o tempo das crianças que melhor se encaixem às possibilidades de cada família. Mamães que não conseguem transformar papelão em foguetes não serão menos mães nem estarão comprometendo o desenvolvimento de seus filhos. Brincadeiras criativas são ótimas, todo mundo gosta, mas para muita gente não dá. Simples assim. E isso não precisa ser um problema. Alternativas não faltam.
Covid-19: Diálogo e brincadeiras ajudam crianças a compreender melhor o isolamento social
– A quantidade do tempo não é o principal, mas a qualidade é algo que rega as relações parentais, pois existe entrega para viver o aqui e agora com plenitude. Arte inventada (usando a criatividade dos participantes), educação física, culinária, pinturas, desenhos, histórias, dança, teatro, música, artesanato, leitura em família, jogos de tabuleiro, bola, corrida, vídeo game, brincadeiras de esconder e adivinhar objetos, assistir a filmes juntos. Se a família tem espaço exclusivo ao ar livre é recomendável e saudável fazer uso para ter contato com a natureza e atividades mais soltas. Cada família deverá acessar suas necessidades e fazer contato com o que gostam de praticar juntos. Esses momentos serão eternizados na memória de todos os envolvidos e registrados com positividade independentemente do caos que estamos vivendo – avalia Juçara.
A tecnologia é grande aliada. Usar material que pode ser acessado em telas, como tablet e celular, também é válido, tanto para conhecimento quanto para distração.
– Acessar as crianças de forma lúdica é mais leve e eficaz para o entendimento e minimiza a pressão do pânico. A tecnologia pode ser eficaz. Existem vídeos infantis sobre o tema nas redes sociais, mas sempre será necessária a supervisão do adulto. As crianças e os adolescentes, com supervisão dos adultos cuidadores, podem também se relacionar virtualmente com os amigos e familiares – diz a psicóloga.
O isolamento necessário por conta da Covid-19 pode afetar o emocional das crianças. Fique atento
Ainda assim, a situação não é fácil, e algumas crianças podem sofrer mais do que outras. Segundo Juçara, é preciso estar atento a alguns sinais e procurar ajuda adequada:
– Diante desse complexo cenário de mudanças que ocorreram rapidamente, alguns pequenos podem adoecer emocionalmente e os cuidadores precisam ligar o alerta para isso. Caso observem mudanças bruscas de comportamentos, como Isolamento, agressividade exacerbada, falta de apetite, descumprimento das ordens, tristeza, choro e outros por um período prolongado, pode ser necessário buscar ajuda de um profissional psicólogo para avaliação.
Leia a íntegra do texto que Juçara Vianna escreveu a pedido do Quem Coruja.
Vivemos em sociedade e o relacionamento com o outro é nutridor. Hoje, estamos diante de um novo cenário por conta da pandemia do Covid-19 em que se faz necessário o isolamento social, pois de acordo com as recomendações da OMS é a forma mais adequada do controle de contágio com a finalidade de não sobrecarregar o sistema de saúde e faltar condições básicas de tratamento médico para os infectados.
As famílias estão tendo que se adaptar ao novo que é imposto a todos, não sendo, assim, uma situação isolada, mas uma demanda do coletivo. Dentro desse cenário, as crianças estão sendo afetadas com a mudança de rotina e afastadas de seus amigos, familiares e das suas atividades, como escola, cursos, brincadeiras com os amigos, festas, parques, passeios, atividades físicas, aulas extracurriculares, tratamentos relacionados à saúde física e emocional. Diante desse complexo cenário de mudanças que ocorreram rapidamente, alguns pequenos podem adoecer emocionalmente e os cuidadores precisam ligar o alerta para isso. Caso observem mudanças bruscas de comportamentos, como Isolamento, agressividade exacerbada, falta de apetite, descumprimento das ordens, tristeza, choro e outros por um período prolongado, pode ser necessário buscar ajuda de um profissional psicólogo para avaliação.
Compreendo que o primeiro passo de combate é informar a criança sobre a realidade mundial da pandemia do Covid-19, levando em consideração sempre a faixa etária e o entendimento singular e a curiosidade do pequeno. Os educadores precisam se comunicar de forma objetiva e clara e ter cuidado para não causar pânico. Premissas importantes na comunicação são: Como surgiu o vírus? Por que se proteger? Como se proteger? Como estão sendo curadas as pessoas que são contaminadas? O risco de morte existe? As crianças estão mais protegidas? Deixar claro que existem cuidados médicos e que pessoas são curadas. Lembre-se de dar informações gerais e de que crianças pequenas muitas vezes desejam informações breves. Lembre-se também que não é saudável bombardear os pequenos de informações. Evite o exagero da mídia e sempre transmita esperança e positividade.
Acessar as crianças de forma lúdica é mais leve e eficaz para o entendimento e minimiza a pressão do pânico. A tecnologia pode ser eficaz. Existem vídeos infantis sobre o tema nas redes sociais, mas sempre será necessária a supervisão do adulto. Outras formas são a criação de histórias imaginárias ou com bonecos, brincadeiras de pergunta e resposta, desenhos e conversas. Enfatizo a necessidade de proporcionar um espaço para a criança se colocar com perguntas e ideias, pois ela faz parte dessa realidade que está sendo afetada. Assim, o adulto pode compreender o que permeia no mundo interno do pequeno. Mas se a criança não quiser se colocar e nem falar sobre o assunto, não é necessário insistir, e sim pontuar a disponibilidade para conversar em outro momento.
Sugiro ainda conversar com as crianças sobre a nova rotina da família e mostrar como elas podem colaborar neste momento. Muitos pais experimentam, pela primeira vez, o esquema de home office. Outros, apesar de já acostumados, também estão diante de novos desafios. As escolas não estão funcionando e algumas famílias já dispensaram a ajuda de secretárias do lar e babás. Isso tudo produz um novo cenário de jornada dupla que exige ressignificações.
Os pais precisam criar a rotina familiar, onde deve haver um tempo reservado para realizarem juntos atividades prazerosas. A quantidade do tempo não é o principal, mas a qualidade é algo que rega as relações parentais, pois existe entrega para viver o aqui e agora com plenitude. Arte inventada (usando a criatividade dos participantes), educação física, culinária, pinturas, desenhos, histórias, dança, teatro, música, artesanato, leitura em família, jogos de tabuleiro, bola, corrida, vídeo game, brincadeiras de esconder e adivinhar objetos, assistir a filmes juntos. Se a família tem espaço exclusivo ao ar livre é recomendável e saudável fazer uso para ter contato com a natureza e atividades mais soltas. Há muitas atividades. Cada família deverá acessar suas necessidades e fazer contato com o que gostam de praticar juntos. Esses momentos serão eternizados na memória de todos os envolvidos e registrados com positividade independentemente do caos que estamos vivendo.
É importante que a educação e o limite estejam presentes na relação entre os pais e filhos. O que é combinado pode sim ser cobrado de forma harmônica e com paciência. Sugiro a confecção de um quadro com a rotina dos dias, descrevendo as atividades e os respectivos horários de cada um da família e com a descrição dos encontros familiares. Seguir o que foi combinado traz segurança, mas caso aja alguma modificação na demanda a criança deverá ser comunicada para compreender o que aconteceu.
As crianças e os adolescentes, com supervisão dos adultos cuidadores, podem também se relacionar virtualmente com os amigos e familiares. Se a família tiver condições de permanecer com as atividades anteriores dos adolescentes e crianças que foram migradas para o modelo on-line é válido experimentar, e, se for positivo, continuar. Precisamos manter vínculos, pois assim teremos a sensação de segurança e a vida será ativa.
Estou vivendo no mesmo barco que todos. É um momento delicado e de ressignificações. Em curto prazo, tive que rever minha forma de trabalhar como psicoterapeuta clínica. Diante da pandemia, a forma de continuar promovendo saúde psicológica é on-line (Resolução CFP 11/2018). Vivo um desafio que é trabalhar home office, garantindo o sigilo com técnica e amor. Eu e meu marido conversamos com os nossos filhos sobre essa nova fase e que eles teriam que cooperar durante o expediente do nosso trabalho, escolhendo brincadeiras adequadas e também dando continuidade às atividades de responsabilidade deles que migraram para o modelo on-line. Estou fazendo exatamente o que descrevi aqui para vocês e espero contribuir com a sociedade nesse momento de dificuldade.
Deixo meu contato do instagram para perguntas: psicologa.jucara.vianna
Juçara Vianna – CRP 05-30398 – Psicóloga Clinica
Atendimento infantil, adulto, idoso, casal e família
Imagem de Gerd Altmann por Pixabay
Adorei o texto. Reflexivo e instrutivo. Parabéns!!!