A doença pode prejudicar a fertilidade, mas tem tratamento
Dores fortes e receio de não poder engravidar. O diagnóstico de endometriose pode assustar muitas mulheres, mas é também o primeiro passo para um tratamento eficaz. A doença pode prejudicar a fertilidade, mas um acompanhamento adequado antes e durante a gravidez torna a maternidade possível.
– Uma recente revisão publicada pela revista internacional “Fertility & Sterility”, em outubro de 2017, incluindo 1.924.114 mulheres comparando os resultados obstétricos daquelas que tinham endometriose com outras sem a doença, demonstrou que a endometriose pode sim ser prejudicial à gravidez. Pacientes com endometriose têm risco aumentado de aborto, placenta prévia, parto prematuro, sofrimento fetal e necessidade de cesária se comparadas a mulheres sem endometriose devido ao processo inflamatório intenso que alteram o miométrio (músculo da parede do útero). Uma gestação em que a mãe tem endometriose deve ser acompanhada de perto, principalmente se a doença for profunda ou grave – diz a ginecologista Fernanda Napoli, da Assistência Médica Ambulatorial (AMA) e da Unidade Básica de Saúde (UBS), em São Paulo.
A doença é caracterizada pela existência do endométrio (tecido que reveste o interior do útero) em outros órgãos, tais como trompas, tubas uterinas, ovários, bexiga e até mesmo em ligamentos inferiores, como a região retrocervical e o intestino. E se apresenta em diferentes níveis (mínima, superficial, moderada e profunda). Costuma causar dor e alterações urinárias ou intestinais durante a menstruação, dor pélvica e dor durante as relações sexuais. Segundo a médica, procurar um serviço de saúde para o diagnóstico precoce aumenta as chances de um tratamento de sucesso.
Os cuidados devem seguir durante a gestação, que, com todas as mudanças que provoca no corpo da mulher, costuma mexer também com os sintomas da endometriose.
– Normalmente, durante a gravidez a mulher tende a experimentar uma piora dos sintomas nos primeiros meses (o rápido crescimento do útero pode repuxar antigas lesões) e melhora nos últimos meses de gravidez. Não se sabe ao certo o que provoca esta melhora, mas acredita-se que os efeitos benéficos se devem à ausência de menstruação e aos altos níveis de progesterona que são produzidos durante a gravidez que evitam o crescimento e desenvolvimento das lesões da endometriose, tornando-as menos ativas. Durante a amamentação também pode ocorrer diminuição dos sintomas devido à inibição e à liberação de estrogênio pelos ovários, suprimindo assim a ovulação e o crescimento e desenvolvimento da endometriose. Porém, é importante salientar que esses efeitos benéficos são apenas temporários e os sintomas de endometriose podem voltar após a gravidez.
O tratamento também varia de acordo com o nível da doença. A avaliação videolaparoscópica é o exame mais indicado, pois identifica a extensão, profundidade e a localização das lesões, definindo a endometriose como mínima, superficial, moderada e profunda. Nos estágios iniciais, o tratamento é clínico e, na maioria dos casos, pode ser realizado com o uso de anticoncepcionais e sintomáticos. Segundo a médica, a cirurgia está indicada em casos específicos.
– A cirurgia de excisão da endometriose é atualmente o único tratamento comprovado que erradica a doença porém na prática o que se tem observado é que muitas pacientes fazem tratamentos cirúrgicos insuficientes para extingui-la definitivamente devido ao alto grau de complexidade e riscos de complicações. Outro ponto que tem que ser levado em consideração é que a endometriose pode acabar sendo culpada por outras condições ginecológicas relacionadas que coexistem com ela, como adenomioses, disfunção da cavidade pélvica, dor relacionada aderências e cistite intersticial (síndrome da bexiga dolorosa). Por isso, outros tratamentos e terapias podem ser necessários para tratar outros sintomas indiretamente associados à endometriose.