Coruja Educação Família

Estudar pode ser bem divertido

Brincadeiras ajudam a fixar conhecimentos e atrair a atenção para os estudos 

Hora do estudo. Que tal chamar as crianças para brincar? Isso mesmo. Elas podem aprender bastante por meio de brincadeiras, assimilando novos conhecimentos ou reforçando conteúdos vistos em sala de aula. E mudar o formato – buscando o lúdico no lugar do austero – pode funcionar melhor do que se imagina.

– Fazer da hora de estudo um momento de alegria e de aprendizagem é muito importante para as crianças, pois elas devem sentir que tudo o que aprendem na escola tem relação com sua vida. Os pais (ou responsáveis) devem estar sempre acompanhando os ensinamentos que os livros didáticos trazem, bem como as tarefas propostas pelos professores. Uma sugestão é que sejam trabalhadas com as crianças brincadeiras que comprovem como o conhecimento escolar se aplica no cotidiano – diz a pedagoga Bertha de Borja Reis do Valle, mestra e doutora em Políticas Públicas, professora aposentada da Uerj e coordenadora da disciplina Políticas Públicas em Educação nos cursos do Cederj ( Centro de Educação Superior a Distância do Estado do Rio de Janeiro) .

Segundo ela, são várias as formas de estimular o aprendizado por meio de brincadeiras, além de maneiras mais simples e leves de fixar conhecimentos:

– Há algumas músicas que ajudam a memorização de alguns conhecimentos, como por exemplo uma que fixa o uso da cedilha que diz:“Antes do e não posso uma cedilha usar/ Só vai antes, meu bem, do u, do o, do a/ Se aparecer um i, ó meu bem/ Cedilha não vai ficar.” Uma brincadeira de roda que lembra um pouco de matemática, relaciona-se com a música “Ai eu entrei na roda”. Um dos estribilhos diz: “Sete e sete são catorze/ Três vezes sete, vinte e um/ Tenho sete namorados/Só posso casar com um”. Uma frase que ajuda no uso da crase, em textos escritos, e que pode servir de brincadeira é:“Se quando venho, venho da, quando vou craseio o a”. Assim, as crianças já saberão que se escrevo “Vim ontem da Bahia”, teremos que colocar crase na frase “Vou à Bahia no ano que vem”. Já se o local de referência for Minas Gerais, não teremos a crase, pois dizemos “Vim ontem de Minas Gerais”. Logo, na frase “Vou a Minas Gerais no ano que vem”, não colocaremos a crase no a.

A professora e mestre em Matemática Aplicada Joana Becker Paulo também considera as brincadeiras grandes aliadas do ensino, e sua experiência profissional comprova isso.

– Meus alunos sempre colocaram a mão na massa. Em sala de aula, a turma não utilizava jogos que já existem, por exemplo. Eu os incentivava a criar novos. Isso promove vários sentimentos, além de ajudar a despertar uma maior autonomia, desenvolver o senso crítico e criativo e, até mesmo, uma certa competição entre os alunos, claro que de uma forma saudável. Nenhum deles queria ficar para trás, então os alunos sempre estavam buscando fazer o seu melhor. E para essas criações é indispensável muito estudo, mas eles o fazem sem perceber. Divertem-se, mas estudando. Elaborar um jogo requer disciplina, criatividade, raciocínio lógico e pesquisa. Quando todos os jogos são concluídos, á hora de testar, e cada grupo brinca com o trabalho dos colegas. Todos os trabalhos são guardados e podem ser utilizados por outras turmas. Os alunos também gostam disso, se sentem importantes, sabendo que criaram algo que os colegas vão ver e apreciar. E o principal, chegamos ao final do semestre com a turma preparada para as avaliações. O aprendizado se torna leve e gradual, sem ser mais uma obrigação. Decorar não é o caminho, pois é algo momentâneo, que não se fixa e não se aprofunda. Fica apenas para um curto espaço de tempo e o real aprendizado acaba não acontecendo – avalia Joana.

As brincadeiras devem estar de acordo com a faixa etária e o nível de escolaridade das crianças, e utilizadas com bom-senso. Tanto em sala de aula quanto em casa.

– Brincadeiras que ajudam no aprendizado são aquelas que levam a criança a entender que o que estuda na escola tem a ver com sua rotina de vida. Mostrar que a Matemática está em toda parte, que a Geografia não está só nos livros, que a História não para de acontecer, que as Ciências da Natureza estão a nossa volta e a Língua Portuguesa é nossa maior companheira da comunicação oral e escrita. Uma visita ao refeitório da escola, ou à cozinha de casa, pode se tornar, de forma lúdica, um aprendizado dos alimentos que consumimos, da quantidade deles que se necessita para fazer o almoço ou o lanche, o local onde foram comprados, os custos dessa compra etc. A análise de certidões de nascimento aponta a cidade onde a pessoa nasceu, a hora de seu nascimento. Comemorar com alegria os aniversariantes do mês leva a um aumento da amizade e da alegria na sala de aula. Devemos evitar exagero nestas atividades, temos que ter um equilíbrio entre os conteúdos a serem fixados e as motivações que levamos para as nossas crianças – diz Bertha do Valle.

É importante, segundo a pedagoga, que a escolha e realização das brincadeiras aconteçam de acordo com a realidade de cada escola e família:

– A inserção das brincadeiras no dia a dia escolar, seja na sala de aula, seja no ambiente doméstico, varia de escola para escola, de família para família. Seria importante que este fosse um tema discutido em reuniões de pais e  professores e de professores entre si. Cada comunidade escolar deveria avaliar como seu projeto pedagógico tem contribuído para uma infância bem sucedida e que deixe boas lembranças na memória de seus alunos.

Para Joana Paulo, as brincadeiras são sempre bem-vindas, desde que o foco, que é o aprendizado, não se perca.

– Qualquer forma de ensinamento que faça o estudante assimilar os conteúdos é um bom “meio” de aprendizagem. Só é preciso tomar cuidado para que o objetivo principal não se perca no meio de “brincadeiras”. Jogos de tabuleiro ou mesmo no computador podem ser sempre usados a favor tanto do professor quanto do aluno. Mas, antes de eles entrarem na sala de aula, é importante que o professor dedique um tempo da aula a conteúdos inciais. Após a exposição mais tradicional, pode-se usar e abusar de diferentes abordagens para que o aluno assimile os conteúdos – afirma.

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