Família

Filho temporão

A experiência da maternidade com o intervalo de vários anos entre as gestações  

Dizem que cuidar do segundo filho é mais fácil, pois já não existem os medos e anseios da “mamãe de primeira viagem”. Mas e quando a diferença de idade entre os irmãos é muito grande? Será que bate um friozinho na barriga pensar em cuidar novamente de um bebê depois de tanto tempo?

– Voltar a cuidar de um bebê depois de treze anos é uma experiência bem interessante. Eu fico tentando me lembrar do que fazia com a Luiza em alguns casos para tentar repetir, mas tudo é muito diferente. Até a medicina é diferente, a forma de tratar algumas doenças, as informações sobre alimentação, as vacinas. E comparar os filhos é impossível, um é muito distinto do outro. Ela era uma menina muito boazinha, tranquila, ficava do nosso ladinho quietinha vendo televisão ou brincando com suas coisinhas. Ele não, é um espoleta, quer mexer em tudo o tempo todo, quer andar, quer jogar as coisas para lá e para cá. Não para quieto. E ele mama muito, sequei mais do que com a primeira filha, nunca estive tão magrinha. Ele acorda pelo menos duas vezes de noite para mamar no peito. A gente também muda demais. Minha coluna não é mais mesma, a disposição também não. Mas enfim, a gente tem que se virar – conta a jornalista Cristiane de Cássia, 41 anos, mãe de Luiza, 14 anos, e Acácio, 1 ano.

Cristiane com Luiza e Acácio / Acervo pessoal
Cristiane com Luiza e Acácio / Acervo pessoal

Acácio é o que se costuma chamar de filho temporão, aquele que nasce muitos anos depois dos irmãos. Em muitos casos, são gestações não planejadas, mas que trazem uma renovação de alegria às famílias.

– Durante muito tempo eu e meu marido quisemos ter um segundo filho, mas por circunstâncias da rotina de trabalho de ambos, fomos protelando até que paramos de pensar nisso. E de repente, vem o segundo filho, sem planejamento, uma surpresa para todos, mas foi muito bem vindo – afirma Cristiane.

Também foi com surpresa que a farmacêutica Vanderlane Mattos Rodrigues Martins, de 49 anos, soube que estava grávida de Manoela, há 7 anos. Ela já era mãe de Felipe e Gabriel, hoje com 26 e 24 anos, respectivamente.

– Eu usava Mirena (sistema intrauterino para contracepção) e engravidei na época que retirei para fazer a troca. Foi um susto quando percebi que estava grávida, mas encarei tudo de forma natural. Os meninos gostaram da ideia, e a gravidez foi muito boa, não tive nenhum problema – lembra Vanderlane.

Vanderlane com Felipe, Manoela e Gabriel / Arquivo pessoal
Vanderlane com Felipe, Manoela e Gabriel / Arquivo pessoal

A mudança veio na rotina. Com a chegada da Manoela, Vanderlane decidiu parar de trabalhar para acompanhar mais de perto a menina, o que não conseguiu fazer quando os filhos eram pequenos.

– Quando os meninos nasceram, eu trabalhava muito e não tinha tempo de curtir. E eles foram sempre muito independentes. Hoje, consigo ter este contato com minha filha. Não sei dizer se em plena consciência em engravidaria. Não conheço trabalho maior do que o de educar um filho. Dizem que depois do primeiro filho a gente fica mais experiente e mais tranquila, mas, francamente, nunca fui uma mãe desesperada nem com o primeiro filho – diz Vanderlane.

Para Cristiane, os treze anos que separam Luiza e Acácio também tem suas vantagens:

– O mais bacana nesse intervalo talvez seja a experiência que a gente adquiriu ao longo do tempo. Hoje acho que posso ser uma mãe para o Acácio bem mais tranquila do que fui com a Luiza, mais em paz, menos estressada com qualquer espirro que ele dá. Sei que tudo é fase, que vai passar, que apesar do cansaço que bate às vezes, no final dá tudo certo. O mais difícil talvez seja sentir e saber que não tenho a mesma disposição que tinha com ela. Espero que eu e meu marido, Sérgio, tenhamos muita saúde para conseguir vê-lo crescer e ajudar na caminhada dele de vida. Para o meu marido, a experiência é muito intensa também. Quando a Luiza nasceu, ele tinha 39 anos e com o Acácio, 51. Se a minha coluna está pior, imagina a dele, mas ele encontra muita disposição para criar nossos filhos. Canta a mesma canção de ninar que cantava para a Luiza e com o maior gosto, o maior prazer.

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