Crianças não entendem a morte da mesma forma que os adultos
“O dia 2 de novembro é dedicado aos mortos. E esta matéria é dedicada a todos que precisam lidar com a ausência de pessoas queridas. E, principalmente, àqueles que não têm o que dizer às crianças que também passam por essa experiência.”
Tristeza, saudade, incompreensão. A morte de uma pessoa querida deixa sentimentos muitas vezes difíceis de serem expressados em palavras. Se é assim com adultos, que já têm vocabulário e experiência de vida, imagine com crianças e adolescentes. Além de ainda não terem uma visão abrangente de vida, são indivíduos em formação, em construção do próprio ser, com poucas referências para lidar com um fato irreversível.
Para a psicóloga Fátima Siqueira Pessanha, especialista em Saúde Mental e Psicanálise, é preciso ter cuidado especial tanto na hora de dar à criança a notícia da morte de alguém próximo, quanto na maneira de encarar o período de luto. Segundo ela, crianças e adolescentes lidam com a situação de maneira diferente dos adultos.
– Difere porque a criança ainda está em formação do desenvolvimento psíquico e não tem simbologia da morte. O adulto já sabe fazer essa diferença simbólica, mas ele próprio às vezes não sabe o que dizer. Porque a morte é uma coisa indizível, é um enigma para todos – diz a psicóloga.
Fátima ressalta que o grau de tristeza varia de pessoa para pessoa e que não existe uma regra para lidar com o luto. Ela lembra também que é comum a criança perceber o sentimento de tristeza no ambiente, perguntar onde está a pessoa que morreu, chorar e até voltar a fazer xixi na cama, por exemplo. Somente em alguns casos aparecem sintomas que podem apontar a necessidade de ajuda médica.
– Os sintomas são manifestações emocionais e psíquicas, como tristeza e angústia, que se prolongam e começam a comprometer o cotidiano do indivíduo. E isso vale para qualquer idade. Em alguns momentos, há até necessidade de medicação. Mas é preciso ter cuidado. Muitas vezes, a pessoa que é medicada não consegue lidar com as perdas que a vida impõe. É importante que se dê, antes de remédios, subsídios, como segurança, afeto e confiança, para ela conseguir lidar com a situação – ressalta Fátima.
As crianças também não precisam ser preparadas para a finitude da vida. O tema morte não deve ser imposto, mas tratado com naturalidade e de acordo com a curiosidade da própria criança. Segundo a psicóloga, é importante que haja interesse por parte dos pequenos, o que geralmente vem em forma de pergunta.
– Não vejo sentido em introduzir este tema na conversa com crianças quando ele não aparece de forma espontânea. A morte de um bichinho, por exemplo, às vezes suscita curiosidade. Aí, sim, é natural falar sobre o assunto. É o mesmo que acontece em relação à sexualidade. Crianças fazem perguntas a respeito – explica Fátima, membro da Escola Letra Freudiana do Rio de Janeiro e do Conselho Regional de Psicologia do Rio de Janeiro.