Psicóloga alerta para o papel dos pais no controle do consumismo infantil
O consumismo é uma marca da vida contemporânea. Assumindo formas e intensidades diferentes, ele se torna cada vez mais onipresente, substituindo a realização pessoal pela necessidade de possuir um determinado produto. Ainda em desenvolvimento e, portanto, mais vulneráveis que os adultos, as crianças não ficam fora dessa realidade, alerta a psicóloga Laís Fontenelle, consultora do Instituto Alana, uma organização não governamental, sem fins lucrativos, que trabalha em várias frentes para encontrar caminhos transformadores que garantam o desenvolvimento pleno das crianças.
– Muitas vezes, para ser aceita na escola ou no círculo de amigos, a criança acha que precisa ter determinado objeto – observa Laís.
Com posição supervalorizada, as crianças muitas vezes ditam o consumo da família. E isso acontece em todos os níveis sociais.
– Em famílias mais pobres, para satisfazer o desejo de um filho, os pais deixam de comprar alimentos para poder juntar dinheiro e dar a ele uma mochila ou um vídeogame que o torne parte de um grupo. No caso de uma família mais abastada, o investimento pode ser em viagens anuais para a Disney, por exemplo – diz.
Até os 12 anos de idade, em geral, a criança não tem capacidade crítica formada – é como se não tivesse filtro – e cabe ao adulto e à legislação darem o limite. A psicóloga lembra a importância dos pais no controle e na orientação dos pequenos.
– É preciso que os pais estejam atentos ao comportamento de consumo dos seus filhos e no seu próprio. Eles devem observar se preferem ir ao shopping em vez de ir ao parque, por exemplo, e têm que aprender a refrear os seus próprios hábitos de consumo para servir de exemplo. Não adianta dizer para o filho que vai ao shopping, mas que ele não poderá comprar nada, e sair com várias sacolas de compras para si – explica.
As crianças são, portanto, alvos preferenciais (e extremamente frágeis) da publicidade, e sofrem cada vez mais cedo as graves consequências do consumismo na infância: obesidade infantil, erotização precoce, consumo de tabaco e álcool, estresse familiar, diminuição do brincar, afastamento da natureza, futilidade e banalização da violência.
Em abril deste ano, foi publicada no “Diário Oficial” da União a resolução do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda), ligado à Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, que aponta o tipo de publicidade considerada abusiva para esse público. De acordo com o texto, é abusiva a publicidade que incentive a criança a consumir determinado produto ou serviço fazendo uso de linguagem infantil, efeitos especiais, excesso de cores, trilhas sonoras de músicas infantis ou cantadas por vozes de criança, representação de criança, pessoas ou celebridades com apelo ao público infantil, personagens ou apresentadores infantis, desenho animado ou de animação, além de bonecos ou similares, promoção com distribuição de prêmios ou de brindes colecionáveis ou com apelos ao público infantil e promoção com competições ou jogos com apelo ao público infantil.
– É preciso orientar os pequenos agora para que não se tornem adultos consumistas e vazios no futuro – finaliza a psicóloga.