Fonoaudióloga fala sobre recusa e seletividade alimentar
A criança não aceitar um ou outro alimento pode ser questão de gosto. Mas o que fazer se ela resiste a quase todo tipo de comida?
– A recusa alimentar pode ocorrer por muitos fatores e, antes de mais nada é necessário se investigar se há questões orgânicas que podem justificar essa recusa, como por exemplo doenças que afetam o trato digestivo (doença do refluxo gastroesofágico, alergia alimentar e constipação, por exemplo), doenças respiratórias (ex: hipertrofia de amígdalas, rinite alérgica), doenças que afetam o neurodesenvolvimento da criança (ex: TEA, TDAH) e desordens do processamento sensorial. Eliminadas essas possibilidades, é importante também que o fonoaudiólogo avalie o sistema sensório motor oral da criança e investigue se as funções de respiração, sucção, mastigação e deglutição não apresentam alterações que façam a criança recusar os alimentos. Em alguns casos se observa recusa porque a criança apresenta um freio de língua curto e não consegue manipular o alimento na boca, porque apresenta hipersensibilidade oral e tem muita dificuldade em aceitar texturas diferentes em sua cavidade oral, porque não sabe mastigar com efetividade ou porque se engasga com frequência em suas refeições – explica a fonoaudióloga Carla Deliberato.
Recusa alimentar: quando a hora da refeição vira uma guerra
Depois de passar pela situação como mãe, Carla se especializou em recusa e seletividade de alimentos, e hoje está à frente da Care Materno Infantil, clínica especializada no atendimento de crianças de seis meses a 12 anos. Em alguns casos, as famílias precisam mesmo de atendimento especializado.
– Quando o momento da alimentação vira literalmente uma “guerra”, um momento de muito sofrimento na família. Se as crianças apresentam muito nojo dos alimentos, não querem tocar e se envolver nas refeições, se apresentam muitas náuseas e vômitos durante as refeições ou se elas recusam um grupo alimentar por inteiro, por exemplo: nunca aceita nenhuma fruta ou não consome verdura de forma alguma, seria ideal a família procurar por ajuda profissional – orienta a fonoaudióloga.
Recusa alimentar: quando bebês e crianças maiores não aceitam novos alimentos
A recusa alimentar pode ser um problema em qualquer idade. Durante a transição do leite materno para outros alimentos e mesmo em crianças mais crescidas.
– Quando a criança inicia a introdução alimentar aos 6 meses de vida, o grande desafio será ela aprender que pode saciar a sua fome não somente com o leite materno ou com a fórmula oferecida, e sim com os alimentos. O maior desafio é sem dúvida a criança aprender a se alimentar com alimentos e não somente com o leite. Crianças maiores que apresentam dificuldade alimentar são mais resistentes às mudanças alimentares propostas no tratamento porque carregam em suas memórias experiências negativas relacionadas à alimentação. Isso ocorre muito com crianças que foram pressionadas e forçadas a comer ou porque passaram por experiências traumáticas – diz Carla.
Na ânsia de fazer os filhos se alimentarem bem, alguns pais podem acabar usando recursos que prejudicam ainda mais a relação da criança com a comida.
– Distrair a criança com uso de tablets ou televisões durante as refeições, pressionar e forçar a criança para comer, chantagear e fazer promessas com presentes se a criança se alimentar e enganar a criança colocando alimentos que a criança não aprecia no prato dela sem ela perceber – lista a fonoaudióloga.
A boa notícia é que tudo pode ser resolvido com atenção, paciência e, se necessário, tratamento adequado.
Foto em destaque: Dra. Carla Deliberato em atendimento/Divulgação