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Saúde da mulher em meio à pandemia

Como as demandas geradas pelo isolamento social afetam a saúde emocional da mulher

A necessidade repentina de isolamento gerou uma série de mudanças também muito rápidas na organização de várias famílias. Protegendo-se do novo coronavírus, muitas pessoas acabaram com a saúde afetada de outras formas. Preocupação, medo, tristeza. Poucos devem sair ileso desta pandemia de Covid-19. Já abordamos aqui algumas consequências emocionais em crianças e adolescentes. Mas como falar de filhos sem falar de mães? De que forma o isolamento necessário e todas as mudanças impostas por essa situação estão afetando a saúde da mulher?

Há vários vídeos e as mensagens que fazem graça com a falta de paciência e ataques nervosos de mães, principalmente em relação às aulas on-line. Mas o humor também leva à reflexão. Mãe consegue dar conta de tudo?  Várias famílias não contam mais com redes de apoio, como a ajuda de parentes e amigos, ou o serviço de babás e empregadas domésticas. Muitas mulheres passaram a acumular o trabalho (fora ou home office), com os afazeres de casa e o cuidado com os filhos. Como manter o equilíbrio em meio a tantas demandas quase que simultâneas?

Saúde da mulher: se for possível, não concentre todas as responsabilidades da casa 

Pensar em divisão de tarefas pode parecer incongruente para quem está se sentindo sozinha, mas, em alguns casos, é apenas uma questão de se reorganizar. As próprias crianças podem ajudar.

– O cuidado e educação dos filhos são bastante terceirizados no mundo atual. Quanto mais adultos envolvidos fazendo coisas pelas crianças, menor a autonomia delas. Não faz parte da nossa cultura, especialmente num meio sócio econômico mais alto, que as crianças participem das rotinas de organização da casa, como arrumar suas camas, ajudar em alguns serviços de casa, guardar seus brinquedos, levar sua louça para a cozinha etc. E a pandemia trouxe essa realidade à tona – diz a psicóloga Heloísa Coutinho, para quem a ajuda de que as mães tanto precisam podem vir dos próprios filhos –  Vejo como algo bastante positivo, desde que entenda-se que aprendizado é processo, e processo acontece aos poucos. As crianças podem aprender novos modelos, colaborar, mas não será da noite para o dia. Além de que as “tarefas” devem ser compatíveis com sua idade, respeitando seu desenvolvimento. Criança pode ajudar, mas não trabalhar – ressalta Heloísa.

Saúde da mulher: Mães precisam de um tempo só para cuidarem de si mesmas

Outra questão importante para a mulher é ter um tempo para chamar de seu. Em meio a todas as demandas, na maior parte do tempo voltadas a outras pessoas, é necessário dedicar-se a algo só para ela. E sem culpa.

–  Todos nós precisamos nos reabastecer, ter nossos momentos, aprender a ter autocuidado, até mesmo para cuidarmos melhor de nossos filhos. Lembre-se que você é o adulto responsável pela casa, as crianças precisam de você, da sua segurança, presença e apoio. Isso vai mudar de acordo com a idade da criança. Mas seja clara, expresse o que você necessita: “A mamãe, agora, precisa ficar um pouco sozinha, ter o momento dela”.  Seja delicada, mas firme. Se suas crianças estão bem atendidas, em segurança, por que você se sente culpada? Reflita sobre isso – aconselha Heloísa.

Procurar entender melhor os desafios da educação também pode ajudar a lidar com o estresse provocado pelas aulas on-line.

– Ainda que o ensino doméstico não seja um tema novo e fosse defendido por algumas famílias, trazendo uma maneira diferente de pensar a educação dos filhos, a maneira como ele entrou nas famílias por conta da pandemia, como único r ecurso possível, tem trazido muitas questões, dúvidas, queixas, desconfortos. Ninguém estava preparado para essa realidade. Não houve um tempo de preparação. Cada escola se organizou de maneira mais ou menos adequada às necessidades das famílias, de acordo com suas possibilidades; são muitas as exigências, são diferentes idades e necessidades, são diferentes métodos de ensino, dos mais construtivistas aos mais tradicionais e conteudistas. Acredito que muito da escolha da escola dos filhos feita lá atrás trouxe questões para os pais sobre as quais não haviam pensado. Por exemplo, será que uma escola mais tradicional e rígida teve mais ou menos dificuldade de adaptação ao modelo de ensino à distância do que uma escola mais construtivista e menos conteudista? Questões como essa têm surgido e vejo muita insatisfação por todos os lados. Escolas são compostas por pessoas, que também têm as suas questões, facilidades e dificuldades ligadas à essa situação que não tem previsão para acabar. Sem dúvida, esse é um grande estressor desse momento que atravessamos. Não há vítima e vilão, esse é um processo novo. Foi necessário começar a fazer estando em construção. Experimentar, muitos erros e acertos. Um fazer e refazer constante. Exige muita criatividade, resiliência, flexibilidade e capacidade de adaptação. E isso também leva tempo – avalia a psicóloga.

A própria maternidade, ainda muito romantizada, também é uma pressão neste momento. Heloísa Coutinho lembra que a maternidade e a paternidade exigem, sim, muita dedicação e responsabilidade. Mas é preciso saber reconhecer as reais necessidades desse processo.

– Muitas mães sentem-se sobrecarregadas porque, para além de tantas tarefas reais e concretas que fazem parte do dia-a-dia e do cuidado para com os filhos e que são cansativas, existem questões inconscientes que estão na origem de muitas dificuldades e precisam ser vistas, cuidadas, trabalhadas – orienta.

Saúde da mulher: lutar contra o estresse ou se lamentar só piora a situação 

A busca pelo equilíbrio passa pelo reconhecimento dos limites e pela capacidade de lidar com situações adversas.

– Antes de mais nada, esse momento exige muita flexibilidade e capacidade de adaptação. Aceitar a situação como estressante ao invés de lutar contra ela, já ajuda bastante. Ficar se lamentando, relembrando o passado, tentar controlar o futuro, nada disso ajuda. Surgem casos de tristeza, quadros ansiogênicos. A vida acontece no presente, no aqui e agora, precisamos aprender a viver o presente, ainda que por ora ele nos traga níveis diferentes de desconforto. Precisamos pensar em quem somos nós diante do incômodo, do sofrimento, da falta de liberdade. A prática do Mindfulness ajuda demasiadamente. As crianças necessitam de ajuda para se organizarem. Precisam de tempo. Ajude-as! Sem rigidez, faça combinados, estabeleça rotinas, separe recursos de estudo para estarem disponíveis, separem jogos que possam jogar enquanto os pais ainda estiverem trabalhando, faça pequenas paradas na rotina, enfim. Adapte-se à idade das crianças. Quanto menores, mais precisam da presença dos pais. Fazer uma lista de coisas simples que nos traz prazer é um ótimo recurso. Cada pessoa pode fazer a sua própria lista, pensando nas coisas que tragam prazer e calma. Ler um livro, ouvir uma música, assistir a um filme há tempo desejado, dançar, falar com amigos e familiares, cuidar de plantas, fazer uma horta…Crie a sua! Aprenda coisas novas ou faça as mesmas coisas de outra maneira. Fazer exercício físico, tentar manter a rotina, buscar alimentos saudáveis, atender suas necessidades de sono, tudo isso mantém a saúde física e mental. Diminuir o nível de exigência quanto à organização da casa também ajuda muito. Dependendo da idade do seu filho, talvez seja bom repensar os espaços, retirar objetos do lugar, criar espaços lúdicos. A casa passou a ser um espaço de convivência diferente. Precisa ser adaptada para esse momento – recomenda Heloísa.

Foto em destaque: Imagem de Robin Higgins por Pixabay

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