Pediatra especialista em nutrição explica os benefícios do vegetarianismo na infância
Criança pode fazer dieta vegetariana? Os nutrientes de origem animal não fazem falta ao organismo? Essas e outras dúvidas são muito comuns quando o assunto é vegetarianismo na infância. Mas a pediatra e especialista em nutrição materno-infantil Patrícia Consorte afirma que, apesar de mitos e preconceitos que ainda cercam o assunto, o vegetarianismo é bastante benéfico para a saúde, inclusive de crianças:
– A dieta vegetariana feita com alimentos de verdade e saudáveis é totalmente adequada para crianças.
Quanto maior a adequação da alimentação melhor os benefícios obtidos. A dieta vegetariana faz bem à saúde, mas precisa de alguns cuidados especiais. Frutas, verduras e hortaliças contribuem para uma microbiota intestinal mais saudável, reduzindo riscos de sobrepeso e desenvolvimento de certas alergias alimentares, respiratórias e doenças autoimunes. Mas não oferecem, por exemplo, a vitamina B12, importante nutriente para o organismo.
– De fato, os alimentos ricos em vitamina B12 são de origem animal, então não é possível extrair a quantidade ideal das fontes vegetarianas. Porém, mesmo em pessoas que consomem proteína animal, já vemos cada vez mais uma deficiência desse nutriente. Ele é facilmente suplementado por via oral, seja por solução, gotas sublinguais ou comprimido – explica a pediatra.
Vegetarianismo e os cuidados na gestação e amamentação
Essa suplementação, é claro, deve ser feita seguindo orientações médicas. E no caso de gestantes, de acordo com o acompanhamento pré-natal.
– No geral, o cuidado maior também é com a suplementação adequada de vitamina B12, nutriente que, no período gestacional, também é suplementado em pacientes não vegetarianas, atentar à suplementação também de ômega 3 e adequação das fontes de cálcio. Do resto, mesmos cuidados de pacientes não vegetarianas na oferta adequada de calorias, proteínas e gorduras, bem como o cuidado com a higienização de saladas e verduras cruas em paciente que não apresentam imunidade contra toxoplasmose – diz a médica.
E os bebês já podem ser vegetarianos desde a primeira papinha, lembrando que a introdução alimentar deve ser orientada por pediatra.
– O pediatra é essencial na introdução alimentar. Idealmente, o
nutricionista também é um especialista muito importante nesse momento,
principalmente quando falamos na adequação do aporte entre proteínas, gorduras e carboidratos. Mas vamos sempre lembrar que dentro do primeiro ano de vida do bebê, o leite materno ainda é o principal alimento – destaca Patrícia Consorte.
A pediatra ressalta que a composição do leite materno de mães vegetarianas é idêntica ao das não vegetarianas, e a amamentação têm a mesma importância para a saúde das mamães e dos bebês. Em casos específicos, é necessário seguir as orientações médicas.
– É importante que o leite materno contenha vitaminas A, D, K e C, e, se não tiver, é necessário suplementar. Para aquelas que estão impossibilitadas de seguir com o aleitamento, as opções de fórmula ideais são à base de arroz e leite de soja, ambas seguras e nutricionalmente adequadas para a infância. Apesar de estudos que mostram segurança e adequação nutricional, o leite de soja é orientado pela Sociedade Brasileira de Pediatria a partir dos 6 meses, já leites vegetais só devem ser consumidos a partir dos 2 anos – explica a pediatra.
E quem não é vegetariano pode passar a adotar a dieta alimentar?
– Iniciar uma dieta vegetariana não é fácil ou simples. A retirada da carne, ovos, leite e derivados requer uma substituição adequada dos minerais e vitaminas presentes nestes alimentos, com opções variadas e, principalmente, in natura para uma boa adequação. Por mais difícil que muitos acreditem ser, tais mudanças podem ser aplicadas tranquilamente na rotina alimentar de todos, especialmente dos pequenos – orienta a pediatra.
Cuidados especiais para uma dieta vegetariana saudável, segundo a pediatra e especialista em nutrição materno-infantil Patrícia Consorte:
Vitamina B12 – “O único nutriente que a dieta vegetariana estrita não é capaz de atingir é a oferta diária adequada de vitamina B12, mas que pode ser suplementada de forma simples em qualquer idade”.
Ômega 3 – “A oferta de Ômega 3 também deve receber maior atenção e cuidado, uma vez que seu teor é extremamente importante para o desenvolvimento neurológico nos primeiros anos de vida. Como alternativa, os óleos e sementes de linhaça e chia, assim como diversas nozes, são fontes ricas deste nutriente – melhores até mesmo do que muitos peixes que consumimos, devido aos altos índices de mercúrio, capazes de causar sérias contaminações. Sua suplementação também é possível para atender às necessidades da saúde das crianças, uma vez que temos boas opções nacionais”.
Cálcio – “Em relação ao consumo do cálcio, os pais também não precisam se preocupar. É fato que o leite e seus derivados têm uma quantidade maior desse nutriente – porém, sua biodisponibilidade é pior do que nas fontes vegetarianas. Vegetais verdes escuros, gergelim, chia, linhaça, feijão branco, dentre outros, são extremamente ricos em cálcio e devem estar presentes na dieta das crianças”.
Aleitamento materno – “Como o estômago dos bebês são menores no primeiro ano de vida, o aleitamento materno é um dos principais apoios como fonte de cálcio, assim como em toda nutrição dos pequenos no primeiro ano de vida”.
Leia também: Alimentação saudável na gravidez e amamentação, Menos açúcar na dieta das crianças e Alimentação e ansiedade.
Foto em destaque: Imagem de Jerzy Górecki por Pixabay