Sabemos que não adianta comparar o desenvolvimento dos bebês. Uns vão andar mais cedo, outros levarão mais tempo para o desfralde, e isso vale para todas as fases. Mas há também um período de tempo considerado para cada conquista. E foi observando uma demora incomum na fala de sua filha, Ana Beatriz, então com 2 anos e 5 meses, que Fabiana Colavini ouviu pela primeira vez sobre apraxia. O diagnóstico de Apraxia de Fala na Infância (AFI) não ajudou muito, pois na época, ainda eram poucas as informações, até entre profissionais de saúde, sobre a doença que atinge duas a cada mil crianças no país.
Fabiana criou um grupo no Facebook para que outras famílias pudessem dividir o pouco conhecimento que possuíam. Outras duas mulheres viviam situações semelhantes. Juliane Tosin, mãe de Giovana, que foi diagnosticada aos 3 anos, e Mariana Chuy, mãe de Gabriel, diagnosticado aos 2 anos e 4 meses. Juntas, as três partiram em buscas de mais conhecimento e tratamento, o que só encontraram no exterior.
– Nos Estados Unidos, encontramos mais respostas e tratamento. Ao voltarmos, fundamos a Associação Brasileira de Apraxia de Fala na Infância – conta Fabiana – presidente da ABRAPRAXIA, que atua ao lado de Juliane, vice-presidente; e Mariana, diretora.
A associação vem atuando desde 2016 na capacitação de profissionais de saúde e famílias. O encontro das três foi mediado pela fonoaudióloga Elisabete Giusti, referência em apraxia da fala na infância, e conselheira técnica da ABRAPRAXIA. Segundo a especialista, a prevalência da apraxia é muito menor do que a de outros transtornos de fala, mas o diagnóstico precoce é muito importante por se tratar de uma condição que afeta mecanismos neurológicos da fala e da linguagem. Quanto antes a intervenção, melhor, devido à neuroplasticidade mais ativa na primeira infância.
– De uma forma geral, acredita-se que de 8% a 16% de crianças na idade pré-escolar terão alguma dificuldade para desenvolver linguagem e fala. É bastante comum crianças que apresentam dificuldade de linguagem para aprender vocabulário, para desenvolver gramática e, principalmente, para aprender os sons da fala. De todos os transtornos que acometem o desenvolvimento da fala e da linguagem, a apraxia é a que tem menor prevalência. Por exemplo, num grupo de crianças que apresentavam dificuldades em torno da fala, cerca de 83% apresentavam problemas de sons de fala por outros motivos. Ou porque tinha uma imaturidade ou porque faltavam estímulos ou porque tinha muita frequência de infecção de ouvido. Apenas 2% a 3% das crianças tiveram apraxia de fala na infância. Então, realmente, é uma prevalência muito menor quando comparada a outros transtornos – explica a fonoaudióloga.
Apraxia – Associação quer incluir o Dia da Conscientização da Apraxia de Fala na Infância (14 de maio) no calendário oficial do país
Talvez seja mesmo por esse motivo que a doença seja pouco conhecida. E é isso que a ABRAPRAXIA quer mudar. Com mais de 50 mil seguidores no Instagram, a Associação vem tentando chamar a atenção do poder público e de entidades de saúde, trabalhando para que o transtorno entre para calendário nacional como o “Dia da Conscientização da Apraxia de Fala na Infância”, em 14 de maio, data já oficializada em outros países (Apraxia Awareness Day). Com a intenção de recolher 1,5 milhão de assinaturas, está lançando um abaixo-assinado na internet, na expectativa de que algum parlamentar apresente um projeto de lei. “Precisamos alertar os pais e profissionais de saúde sobre a existência desse distúrbio. O quanto antes as crianças recebem o tratamento adequado, maiores as chances de elas atingirem seu melhor potencial de desenvolvimento”, conclui a diretora da ABRAPRAXIA, Mariana Chuy.
Apraxia e outros transtornos de fala
Se a apraxia aparece com menor frequência, outros transtornos de fala não são tão raros assim. Percebendo algum atraso especifico, o mais importante é procurar um especialista para avaliação e tratamento adequado.
Veja quais sãos os transtornos mais comuns de fala:
- Questões ambientais – Quando o excesso de tela, por exemplo, e a falta de estímulos adequados atrapalham o desenvolvimento da fala.
- Transtornos do Desenvolvimento da Linguagem – Quando a criança é aparentemente normal, escuta e tem bom cognitivo, mas tem muita dificuldade de desenvolver linguagem.
- Transtornos dos sons de fala – Crianças que não conseguem aprender adequadamente os sons da fala – isso inclui a apraxia de fala e outros transtornos que acometem a aprendizagem dos sons de fala.
- Transtornos secundários – crianças que apresentam dificuldade por deficiência intelectual, autismo ou outra síndrome.
- Problemas de fala relacionados à parte de motricidade oral – crianças que têm uma alteração estrutural, como um frênulo lingual curto.
- Questões por problemas auditivos.
Mais informações sobre o assunto no site da dra. Elisabete Giusti, atrasonafala.com.br
E mais sobre apraxia de fala na infância, no site da apraxiabrasil.org