Coruja

Outubro rosa: Câncer de mama e gravidez

Tratamento de câncer de mama na gestação e no puerpério

“Infelizmente, confirmaram o câncer de mama e a indicação era começar por quimioterapia devido ao tipo. Câncer de mama tem vários tipos. O nódulo que eu tinha reagiu para hormônios e para HER2, o que eles chamam de triplo positivo. Fui então em uma consulta com os oncologistas, e dia 18/03/2020 fiz minha primeira quimioterapia. Meu filho, nesse dia, fazia 3 meses de nascido”.

E de março para cá, a advogada Marluce Rodrigues, de 39 anos, tem vivido entre as alegrias da maternidade, cuidando de Gabriel, e as angústias do tratamento de câncer de mama. Depois de 16 sessões de quimioterapia e uma cirurgia, Marluce ainda está fazendo radioterapia e aplicações de anticorpos. E, mesmo conciliando tudo isso com a atenção ao filho, dedicou um tempo para contar sua história ao Quem Coruja. Como ela, muitas outras mulheres precisam lutar contra a doença, que durante todo este mês, o Outubro Rosa, é foco de campanha de conscientização.

Outubro Rosa – Alterações nas mamas dificultam diagnóstico de câncer de mama durante a gestação

– O diagnóstico de câncer de mama quando acontece durante a gestação é um quadro mais delicado, no sentido em que as pacientes estão vivendo uma experiência única da gravidez, e, de repente têm que lidar com um diagnóstico de câncer, e mudanças em relação à sua rotina, com discussão de tratamento cirúrgico, quimioterápico. É um contexto em que precisamos ainda mais da equipe multidisciplinar unida e coesa no acompanhamento dessa mulher. Participam deste cuidado o oncologista, o obstetra, o radioterapeuta, o mastologista e a equipe da psicologia, de uma forma que se possa dar o melhor suporte para essa mulher – avalia a oncologista Luciana Landeiro, coordenadora do Programa de Saúde Mental da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC).

Segundo a especialista, o câncer de mama durante a gestação e/ou amamentação costuma não ser diagnosticado precocemente devido às próprias alterações por que passam as mamas nesses períodos.

Marluce chegou a perceber o nódulo ainda durante a gravidez, mas só achou que algo estava realmente errado após o nascimento de Gabriel e a dificuldade em amamentar.

– Engravidei com 38 anos e tive alguns problemas. Precisei de repouso absoluto por três meses. Quando estava com uns 6 ou 7 meses de gestação, senti o nódulo tomando banho, mas meus seios estavam inchados e as glândulas mamárias confundiam. Na época, comentei com meu ginecologista, mas ele não viu necessidade de realizar exames naquele momento. Na verdade, o foco era o bebê conseguir concluir a gestação no tempo certo. O assunto dos seios acabou esquecido. Mas quando meu filho nasceu, a amamentação foi difícil. O leite vinha pouco e com 15 dias tive que complementar com fórmula. Foi minha sorte, porque os seios começaram a diminuir e eu pude perceber nitidamente o nódulo. Voltei a falar com meu ginecologista que me passou uma ultrassonografia. No resultado do exame, a surpresa: havia indicação de uma biópsia, pois a suspeita de câncer era alta. Estava escrito BI-RADS 5 (90% chance de ser câncer de mama). Sinceramente, não esperava esse resultado. Imediatamente, fui procurar um bom mastologista e sozinha achei meu médico em um site de pesquisa. Ele não aceitava plano de saúde, mas eu tinha pressa e arrisquei. Foi a decisão mais acertada. O mastologista me acalmou, colocou a secretária dele para me ajudar nos agendamentos e em 15 dias eu tinha feito todos os exames – conta Marluce.

O tratamento não deve mesmo ser adiado. O combate ao câncer de mama pode acontecer até durante a gestação.

– Podem ser feitas tanto cirurgia quanto quimioterapia durante o período gestacional. Claro que algumas adaptações precisam ser feitas. Nem todos os agentes utilizados no tratamento sistêmico de câncer de mama podem ser utilizados na gestação. A quimioterapia pode ser feita com os cuidados e, em geral, até a 34ª semana de gestação – explica a oncologista.

Outubro Rosa – Câncer de mama pode aparecer em mulheres jovens

A maior parte dos casos de câncer de mama aparece após a menopausa, em mulheres com mais de 50 anos. Mas, no Brasil, a incidência em mulheres jovens, com menos de 40 anos, é maior do que em países europeus e norte-americanos.

– No Brasil, estimamos que aconteça no próximo triênio mais de 66 mil novos casos de câncer de mama, e sabemos que no nosso país temos uma peculiaridade. Diferente de países da América do Norte e europeus, em que a incidência de casos novos de câncer de mama em mulheres com menos de 40 anos é menor que 10%, no Brasil, o último dado publicado pelo estudo estimado Amazona, que faz uma avaliação das características demográficas da população brasileira com câncer de mama, e foi publicado em junho de 2020, mostra que 16,5% de mulheres diagnosticadas com câncer de mama têm menos de 40 anos. E isso faz com que a gente tenha maior risco de ter pacientes com câncer de mama associado à gestação – diz Luciana.

Outubro Rosa – Pandemia reduziu em 47% a realização de mamografia 

É para conscientizar sobre a importância de exames de rastreamento, que o mês de outubro é dedicado à campanha contra o câncer de mama.

–  A orientação das sociedades brasileiras de Mastologia, Radiologia e Oncologia Clínica é a realização de mamografia anual a partir dos 40 anos. Mas sabemos que na nossa população, de uma forma geral,  estamos abaixo do que a Sociedade Brasileira de Mastologia preconiza em termos de números anuais de mamografia. E neste ano, com a pandemia, tivemos uma redução de 47% na realização de mamografia. É muito importante reforçar que o câncer não espera e que precisamos continuar fazendo os exames de rastreamento para que seja possível o diagnóstico precoce, já que ele permite que a chance de cura supere 95% – ressalta Luciana Landeiro.

As ações do Outubro Rosa também são bem vistas por Marluce:

– Qualquer forma de conscientização das mulheres é importante. O câncer de mama pode ocorrer na gravidez, não é tão incomum e pode ocorrer em mulheres jovens. Então é muito importante sempre fazer exames e se cuidar.

 

As fotos que ilustram o post foram gentilmente cedidas por Marluce. O Quem Coruja agradece toda a atenção e deseja plena recuperação e muita saúde. 

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