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Covid -19: Saúde emocional de crianças

Alguns cuidados para manter a saúde emocional em tempos de Covid-19 

A pandemia de Covid-19 intensificou uma série de cuidados para evitar o contágio do novo coronavírus. Lavar as mãos, limpar os ambientes, higienizar tudo o que vem da rua, evitar aglomerações. Mas o que fazer para não se deixar contaminar pelo medo ou adoecer por estresse? Que medidas podem ser tomadas para manter a saúde emocional neste momento?

O Quem Coruja pediu ajuda à Sociedade Brasileira de Psicologia. E reproduz abaixo as orientações da psicólogas Angela Helena Marin, Ana Carolina Fonseca e Graciana Sanchotene, do Núcleo de Estudos sobre Famílias e Instituições Sociais e Educativas (NEFIES) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a essas e a outros perguntas.

Quem Coruja – Evitar aglomerações e lavar as mãos são algumas das orientações físicas para evitar a Covid-19. Mas que medidas psicológicas, se assim podem ser chamadas, são importantes neste momento?

Estamos diante de um acontecimento histórico no âmbito da saúde pública que exige muita atenção e cautela. Nas últimas semanas, a rotina de muitos indivíduos e famílias ao redor do mundo foi abruptamente desorganizada. As notícias a respeito de um novo vírus tomaram conta dos veículos de comunicação e das redes sociais. Em decorrência disso, planos foram adiados, encontros desmarcados e as atividades do dia-a-dia limitadas. As medidas de enfrentamento ao coronavírus, incluindo o isolamento social, são imprescindíveis neste cenário, mas podem causar significativos impactos psicológicos e emocionais. Dentre eles, destaca-se a manifestação de estresse agudo, irritabilidade, confusão, tédio, prejuízos financeiros e medo intenso do contágio. Existem algumas medidas para amenizar estas consequências e enfrentar a crise atual com mais leveza. Em um primeiro momento é essencial compreender as características da doença e a importância da quarentena. A busca de informações é uma estratégia eficaz para aliviar o medo frente a um fenômeno desconhecido. Lembre-se de sempre acessar fontes seguras, há muitas fake news circulando, e de afastar-se do excesso de informações quando os conteúdos gerarem ansiedade! Investir o tempo livre em atividades de lazer, relaxamento e autocuidado é outra alternativa para manter-se  ocupado. Planejar o dia e manter-se o mais próximo possível da antiga rotina pode ser um fator protetivo contra o surgimento de sintomas relacionados ao estresse. Algumas pessoas se distraem assistindo filmes e séries, lendo livros, estudando, cozinhando ou fazendo exercícios. Aproveite o momento para explorar os seus interesses pessoais e dedicar-se aquelas atividades que não estavam sendo executadas por falta de tempo. Contudo, é importante manter-se flexível, conhecer os próprios limites e não cobrar-se produtividade! Cultivar a comunicação com as pessoas que estão próximas é uma maneira de reduzir o tédio e estreitar as relações. Assim, programe atividades em conjunto, como jogos e brincadeiras, e compartilhe as tarefas do dia a dia. Também é indicado que sigamos nos comunicando com as pessoas que estão distantes fisicamente, por meio de mensagens e ligações. Por fim, é importante encarar o isolamento como um privilégio e um ato altruísta, já que adotar a quarentena é uma maneira de ajudar pessoas mais vulneráveis que você. Aqueles que se isolam de forma voluntária, apresentam menos dificuldades psicológicas e complicações a longo prazo. O momento pede que usemos nossos recursos individuais para suportar e se adaptar à rotina de forma mais prazerosa. O surgimento de sentimentos desconfortáveis em decorrência da crise atual pode ocorrer. Para tanto, é válido lembrar que a busca por ajuda profissional é uma ferramenta que pode ajudar a lidar com estes sentimentos. Atendimentos online, inclusive de forma gratuita em algumas plataformas, têm sido disponibilizados a fim de minimizar dificuldades emocionais e psicológicas.

Quem Coruja – Como este momento, no qual o isolamento se faz necessário, pode afetar as crianças?

O isolamento social afeta todos os membros da família, inclusive as crianças. A mudança de rotina e o sentimento de insegurança que circunda a nossa sociedade repercute os seus efeitos em todas as faixas etárias. Assim, a dinâmica familiar e o comportamento das pessoas que precisam se adaptar a um novo contexto podem sofrer alterações. As crianças respondem de maneiras distintas ao estresse provocado pelo isolamento. Irritabilidade, inquietação, carência, maior dependência dos pais, entre outros sinais, são algumas reações esperadas neste momento. A maneira como as crianças irão lidar com a situação está estritamente relacionada com a conduta e manejo dos pais e/ou cuidadores frente ao problema. Diante disso, recomenda-se que a mãe e o pai encarem o momento como uma oportunidade de união e conexão entre os membros da família. Compreender as necessidades dos pequenos, ser paciente e atencioso são estratégias valiosas para tornar o ambiente familiar mais acolhedor e interativo. A utilização de um planejamento diário contribui para a organização do dia e também pode ser um aliado na promoção de bem-estar. Muitos pais que estão em isolamento social seguem trabalhando em home office, tendo que dividir o tempo entre as demandas de trabalho e o cuidado dos filhos. O planejamento colabora para que consigam atender as duas demandas, podendo reduzir a ansiedade. Desde que se iniciaram as medidas de isolamento e o fechamento de escolas e creches das redes pública e privada, aumentou o compartilhamento de sugestões de atividades,  brincadeiras e entretenimento para as crianças. Algumas escolas, inclusive, prepararam materiais com dicas de atividades para desenvolver com os pequenos durante a quarentena. Trocar sugestões com outros pais e/ou cuidadores que encontram-se em situações semelhantes através de meios de comunicação pode trazer benefícios e novas ideias. Administrar o tempo e conseguir dar conta de tudo são desafios que todos estamos aprendendo juntos. É importante que se minimize cobranças e que se trabalhe com expectativas reais, reunindo estratégias para superação das dificuldades com paciência (lembrem-se: o isolamento é temporário!) e discernimento.

Quem Coruja – Crianças muito pequenas, de 1 a 3 anos de idade, também sentem os efeitos do isolamento? Podem ficar mais irritadas ou agitadas?

Os efeitos do isolamento social e a mudança da rotina tendem a afetar todos os membros da família. Nas crianças de idades iniciais, com faixa etária entre um e três anos, o impacto também pode ser observado. Possivelmente haja uma mudança de comportamento, deixando-as mais inquietas, irritadas e demandando mais atenção do que o habitual. Como consequência, os pais e/ou cuidadores podem desenvolver sentimentos de preocupação e ansiedade. Conforme mencionado nas questões anteriores, uma estratégia efetiva para amenizar as alterações comportamentais consiste em estabelecer uma rotina estruturada de sono, alimentação e demais atividades. O espaço do lúdico e do brincar devem ser amplamente explorados neste processo. As atividades que proporcionem interação com outros membros do grupo familiar também são bem-vindas, como jogos, contação de história e participação na preparação de alimentos (conforme o possível para a faixa etária). É importante que se escute o que a criança tem a dizer, seja a partir da linguagem verbal ou corporal. Uma atitude atenciosa, paciente e transparente por parte dos adultos propicia um ambiente seguro à criança e diminui a ansiedade no processo de adaptação à nova rotina.

Quem Coruja – Muitas crianças estão tendo aulas online, um formato totalmente novo para muitas delas e suas famílias. Que orientações podem ser dadas para essa rotina não se transformar em estresse?

Devido a suspensão das aulas e a quarentena imposta pela pandemia do coronavírus, a educação familiar ou homeschooling passou a fazer parte da realidade de muitas famílias brasileiras. O ensino em casa exige que pais e mães assumam parte das atividades escolares, o que pode provocar sobrecarga e estresse familiar. Assim, é indicado manter uma rotina parecida com a da escola, mas com a consciência de que existem limites para isso e que não são saudáveis exigências e expectativas excessivas. Uma estratégia para estabelecer uma rotina com a criança e inseri-la nessa nova proposta pedagógica é através do planejamento diário. Ter um espaço disponível na casa para escrever os horários de estudo e das aulas online, as disciplinas e as tarefas da semana pode auxiliar no processo de aprendizagem. O planejamento deve incluir horários para refeições, brincadeiras, ócio e relaxamento. Além disso, crianças também precisam receber informações sobre o Covid-19. Não tenha medo de falar sobre o que está acontecendo com os pequenos. A maioria deles já ouviu falar sobre o vírus e percebeu as mudanças no seu dia-a-dia. Essa é uma excelente oportunidade para explicar de uma forma compreensível para a faixa etária do que se trata a doença, orientar sobre medidas de cuidado e prevenção, esclarecer dúvidas e permitir que expressem as suas preocupações. É importante que os pais e cuidadores estejam disponíveis para escutar e validar as emoções das crianças frente a este momento atípico. Com o objetivo de auxiliar na comunicação com as crianças, foram elaborados materiais que sintetizam de forma lúdica e clara algumas informações sobre o coronavírus. Como exemplo, pode-se citar o livreto denominado “Coronavírus” da “Série Pequenos Cientistas”, lançado pela UFMT, e o livro “História da ostra e da borboleta: o coronavírus e eu”, escrita por Ana M. Gomez, ambos disponíveis online. Por fim, mas não menos importante, crianças precisam de segurança e afeto. Aproveite a ocasião para estreitar os vínculos familiares, oferecendo carinho e atenção aos pequenos neste momento de intenso convívio.

Foto em destaque: Imagem de Hulki Okan Tabak por Pixabay 

 

(1) Comentário

  1. Marlise Souza diz:

    Muito esclarecedor o artigo, realmente estamos vivendo um momento altamente estressante e nossos filhos sentem essas mudanças na vida e na rotina da família.

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