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Crianças e mídias digitais

Psicóloga fala de vantagens e desvantagens no uso das mídias digitais na infância

O mundo ao alcance de pequenas mãos, que deslizam em telas de celulares, digitam rapidamente palavras-chaves para abrir vídeos, passam, uma após outra, várias fotos nos smartphones. Neste mundo ao alcance de mãos ainda em fase de crescimento, como lidar com o desenvolvimento das crianças, tão expostas às mídias digitais?  Como tudo isso vem impactando as novas gerações?

– A interação com as tecnologias também impacta o modo de ser das crianças e vem reconfigurando as concepções de infância. É um processo sem volta. As crianças de hoje já nasceram nesse mundo digital. Seja para as crianças ou para nós adultos, o uso de smartphones, tablets, redes sociais aplicativos pode trazer benefícios e prejuízos. Essa linha tênue está relacionada com a intensidade, o conteúdo, o impacto na rotina e o bom senso quanto aos limites de seus uso – diz Jussara Besutti, psicóloga e mestranda do IMED (Passo Fundo/RS).

Jussara vem trabalhando em uma pesquisa com o objetivo de desenvolver um aplicativo de prevenção à violência sexual contra crianças, e respondeu ao Quem Coruja sobre as vantagens e desvantagens da interação de crianças e adolescentes com as mídias digitais. Segundo ela, é preciso levar em consideração que há tanto aspectos positivos quanto negativos no uso de redes sociais e aplicativos pelas crianças.

– O contato das crianças com essas tecnologias pode trazer algumas vantagens e desvantagens. Como vantagens, pode-se citar a possibilidade do aprendizado ocorrer de forma lúdica. Desperta nos pequenos a curiosidade e criatividade estimulando a pesquisa, o descobrimento ou a vontade de aprender por parte da criança. Pode ser utilizada como ferramenta de apoio escolar e ajudar a melhorar os resultados escolares, desenvolver a inteligência. Estimula o vocabulário e raciocínio. Bem como, demonstra ser uma forma de comunicação e relação com pessoas próximas ou que estejam distantes, entre outros. Contudo, o uso das tecnologias pode trazer alguns inconvenientes e desvantagens para as crianças, como dificuldades de socialização e relação com outras pessoas, baixo rendimento escolar, dificuldades de atenção, concentração, ansiedade, comportamento agressivo e impulsividade, problemas do sono e alimentação. Além de sedentarismo, obesidade, alterações visuais, auditivas e posturais, até mesmo exposição e exploração sexual – enumera.

Aliar o interesse das crianças pela tecnologia pode ser bastante proveitoso para o aprendizado e estudo.

– Existe uma diversidade de aplicativos, sites, games com conteúdo educativo ou até mesmo pedagógico que os pais podem auxiliar seus filhos a fazer download e jogar junto com as crianças. Importante verificar a classificação indicativa – diz Jussara, lembrando que, ainda assim, é recomendável administrar a duração do uso dessas ferramentas. – Mesmo com conteúdo que favoreça a aprendizagem é preciso atenção quanto ao tempo e exposição das crianças a essa tecnologia. De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria não é recomendado exposição à tecnologia para crianças menores de 2 anos. De 2 a 5 anos de idade, a indicação é de uma hora e meia por dia, nunca durante as refeições e nem duas horas antes de dormir. Para crianças a partir de 5 anos, o acesso indicado é de duas horas por dia de conteúdos adequados (sugere-se fracionar este tempo).

Cabe aos responsáveis filtrar, supervisionar e esclarecer sobre o uso de mídias digitais. E não apenas com o intuito de proteger, mas também o de ensinar que o comportamento respeitoso se estende ao mundo virtual.

– Os conteúdos devem ser filtrados tomando por base a faixa etária e a fase de desenvolvimento da criança. Isso porque os conteúdos, seja de filmes, vídeos, jogos ou aplicativos são elaborados de acordo com as etapas do desenvolvimento cérebro, mental, cognitivo e psicossocial das crianças. Ou seja, do que é apropriado e o que a criança é capaz de compreender na fase de desenvolvimento em que se encontra. Também orientar sobre não criar perfis falsos, não postar qualquer mensagem de desrespeito e discutir sobre conteúdos de discriminação, intolerância ou ódio das tecnologias digitais – lembra a psicóloga.

No mais, é saber aproveitar o que a tecnologia nos oferece e também oferecer às crianças o que não depende da tecnologia.

– A tecnologia é uma das possibilidades que o mundo oferece para desenvolver habilidades, conhecimento ou de nos comunicarmos e nos relacionarmos. Mas não é a única. O mundo também é feito de animais, de plantas, água, areia, pessoas da família, de fora da família, de tinta, de canetinha, de lápis de cera, de música, livros, desenhos, brinquedos, teatro, dança, de relações, de parquinho e de presença dos pais. Ressalto, nós adultos somos o exemplo. Precisamos nos reeducar diante dessa nova realidade para podermos educar nossos filhos. Não se pode exigir que uma criança não use aparelhos se não oferecemos a ela um substituto tão ou mais atrativo ou se agimos diferentes do que falamos e os orientamos. A tecnologia, a internet será bem-vinda desde que não ocupem todo o tempo da criança e nosso também. Não adianta querer o filho participando se os pais não saem do celular. Reservar um tempo para os filhos, ainda que pouco, para a leitura de um livro, uma brincadeira com jogos, bonecas, carrinhos, traz a criança para perto de nós. Eles aprendem a nos ouvir e a nos olhar. E essa interação familiar e conexão humana são fundamentais – avalia Jussara.

 

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