Crianças devem ser estimuladas a realizar tarefas sozinhas
Um vídeo com uma criança pequena sem braços nem pernas, subindo as escadas de um escorregador para brincar, viralizou nas redes sociais. Fala de superação, mas talvez a mensagem mais importante ali seja a da importância de estimular a autonomia na infância. A criança do vídeo, apesar das suas limitações, é capaz de fazer aquilo. Crianças são capazes de fazer várias coisas, e dar esta autonomia a elas ajuda muito no desenvolvimento físico e emocional.
– Precisamos respeitar o movimento natural do crescer. Fazer pelo outro, quando ele é capaz, não promove segurança. A repetição do fazer pelo seu filho quando ele é capaz pode causar danos psicológicos regados da ilusão neurótica de proteção e carinho – afirma a psicóloga clínica Juçara Guedes de Barros Vianna.
Segundo ela, crianças a partir de 2 anos já podem ser estimuladas a realizar tarefas sozinhas. A presença e o auxílio de um adulto, claro, é fundamental. Mas o incentivo ao “faça você mesma” faz parte de uma edução saudável.
– A criança, a partir de de dois anos, já pode ser estimulada e ensinada a se alimentar sozinha, solicitar água quando estiver com sede, ir ao banheiro e tomar banho com supervisão e orientação para higienizar-se. As atividades de pentear o cabelo, vestir-se, escovar os dentes, amarrar o sapato, recolher seus brinquedos, auxiliar na arrumação do quarto, arrumar a mochila da escola e outras, quando realizadas de forma autônoma, favorecem o desenvolvimento psicomotor, emocional, intelectual e a autoestima. Assim, a criança aprende a viver no mundo de forma harmoniosa e se apropria da capacidade de ir em busca da realização de suas necessidades e seus desejos – explica.
A psicóloga ressalta que os pais (ou adulto responsável) precisam saber orientar e ser pacientes em todo o processo. Elogios às conquistas das crianças também são importantes para elas.
– O adulto tem total influência no processo de desenvolvimento de autonomia e deve ser paciente, realizar e demonstrar a tarefa no passo a passo, estimular, orientar, utilizar-se de recursos lúdicos e estar perto para ajudar, caso ocorra dificuldade na aprendizagem de uma nova atividade diária. Na repetição contínua desse processo ocorre a aprendizagem, e, com os estímulos positivos, logo a criança estará realizando a tarefa sozinha. Elogios como: “Você vai conseguir”; “Dessa vez eu lhe ajudei só um pouquinho”; “Acredito em você”; “Parabéns, você conseguiu” elevam a autoestima e encorajam o esforço para o alcance do resultado, trazendo também segurança e a compreensão da função estimulante e acolhedora do adulto – afirma.
Para Juçara, um dos principais erros dos pais é continuar cuidando dos filhos, já crescidinhos, como se fossem bebês.
– Os pais precisam se atualizar em relação às necessidades do filho e tratá-lo de acordo com a respectiva idade. Às vezes ficam presos no bebê, no falar errado e em realizar tarefas do dia a dia no lugar do filho. Na atualidade, a falta de tempo, o achar que é uma demonstração de carinho e a pressa acabam favorecendo que o adulto faça a tarefa e não estimule a autonomia. É comum encontrar crianças de 4 anos que não comem sozinhas, de 7 anos que não amarram seus sapatos. Essas ações atrapalham o processo de autonomia, fixando-a em uma fase do desenvolvimento infantil defasada e retrógrada, causando danos biopsicossociais – avalia a psicóloga, lembrando que promover a autonomia não é deixar de lado o carinho, pelo contrário. – Demonstrações de carinho podem ser vividas na brincadeira, no abraço, no beijo, no passeio, no elogio e na promoção de autonomia do filho.
Autonomia é importante, sim, mas, lembre-se: não é sinônimo de independência total. Criança é criança, e precisa de atenção e cuidados dos adultos, tudo na medida certa.
– O meio é importantíssimo para o empoderamento da criança na conquista da autoestima, porém, deve-se considerar o amadurecimento neurológico, psicomotor e a capacidade de cada fase do desenvolvimento infantil. É relevante ressaltar que as crianças não são totalmente autônomas e necessitam, sim, do acompanhamento dos seus pais e cuidadores que são como espelho para moldar comportamentos – ressalta Juçara.
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