Por terem vivido pouco, as crianças não sabem como lidar com as frustrações. É preciso ensiná-las
Educadores e psicólogos concordam que as crianças de hoje estão muito mimadas. Talvez como forma de compensar o tempo em que estão longe dos filhos, pais permitem que os pequenos façam tudo o que quiserem sem impor-lhes limites. A palavra ‘não’ parece ter caído em desuso. De acordo com a psicoterapeuta Maura de Albanesi, o que muitos pais não percebem é que a falta de limites pode acabar prejudicando a própria criança, que dessa forma não estará apta a enfrentar momentos adversos da vida.
– Nem sempre tudo acontece da forma que queremos e não se pode ter tudo sempre. Essa é uma realidade que precisamos enfrentar desde jovens. A criança precisa ser preparada para superar as frustrações. Ela precisa entender que nem tudo é como ela quer e que, às vezes, a realidade pode ser difícil. Quando educamos sem que a criança saiba quais são os limites, estamos criando adolescentes rebeldes e, posteriormente, adultos infantilizados, com problemas de adaptação, despreparados para a vida. Numa casa onde há disciplina, a criança se sente amada e acolhida, o que é muito saudável para desenvolvimento – explica.
Segundo a especialista, é nas primeiras fases da vida – a infância e a adolescência – que o caráter e a identidade começam a ser moldados. São nesses momentos que as crianças mais precisam da presença dos pais, pois existem muitas novidades acontecendo: os primeiros amigos na escola, as primeiras paixões, as primeiras viagens, as primeiras festas e, consequentemente, as primeiras frustrações. Tudo exige dos jovens uma postura caso as coisas não aconteçam da forma desejada. Se eles não forem bem preparados, vão sofrer. É necessário ter em mente que ficarão adultos e passarão por momentos adversos, e educá-los com a percepção de que a decepção é algo normal fará deles crianças mais maduras e fortes.
– Quem aprende a superar as frustrações ainda na infância certamente, quando adulto, tem mais chances de êxito no enfrentamento dos desafios e medos, seja no campo profissional ou no pessoal – afirma, lembrando a importância de dizer ‘não’ e determinar limites.
Além disso, a psicoterapeuta orienta que os pais ensinem os filhos a ter paciência e a esperar, e sugere que também proponham desafios:
– Encontre oportunidades e situações que estimulem as crianças. Peça para que elas façam coisas que vão além do que já foram capazes de executar. No entanto, enfatize a importância de continuar tentando, mesmo que o êxito ainda não tenha sido alcançado.
Para a especialista, é importante também estimular a independência para que as crianças tenham condições de resolver os conflitos que surgirem durante uma brincadeira, por exemplo. E, claro, nada substitui uma boa conversa:
– É preciso falar aos pequenos sobre a vida. Tente explicar, de maneira didática, que o mundo não é 100% lindo e que, em certas situações, a vida é dura e devemos estar preparados. Deixe claro que não temos controle sobre certos aspectos. Um dia iremos nos decepcionar, sofrer, mas tudo é passageiro e faz parte de um grande aprendizado.