Perinatal, no Rio de Janeiro, é referência em cirurgia neonatal e pediátrica
É impossível não se emocionar ao ouvir, pela primeira vez, o som dos batimentos cardíacos do bebê em uma ultrassonografia. Mas nem sempre esse coraçãozinho vem saudável. E, em alguns casos, é necessária intervenção cirúrgica logo nos primeiros meses de vida.
– No Brasil, nascem em torno de 24 mil crianças com cardiopatia todos os anos, e, dessas, 16 mil deveriam fazer uma cirurgia cardíaca. Somente 20% dessas crianças conseguem ser operadas, pois faltam recursos e centros especializados – diz Sandra Pereira, coordenadora de cirurgia cardíaca da Perinatal, maternidade que é referência em medicina cardíaca neonatal e pediátrica.
A malformação do coração responde por quase 40% dos óbitos por anomalia congênita em bebês com menos de um ano. No Brasil, a cardiopatia atinge um em cada 100 recém-nascidos. Segundo Sandra Pereira, a maioria dos bebês que nascem com doenças cardíacas precisa se submeter à cirurgia.
– A (doença cardíaca) mais comum é uma comunicação entre os ventrículos. Chama-se CIV. Algumas necessitam de cirurgia e outras não, e depende de uma avaliação do cardiologista pediátrico através de um exame chamado ecocardiograma e pelos sintomas do bebê. Outras doenças cardíacas podem não necessitar de cirurgia, mas em torno de 75% delas são corrigidas cirurgicamente – afirma a médica.
Na Perinatal, são realizadas, em média, 20 cirurgias por mês. Cerca de 80% das operações são realizadas antes de o bebê completar um ano, e, destas, 46% já no primeiro mês de vida. A excelência da instituição se deve, não apenas à infraestrutura, mas à equipe altamente especializada e, principalmente, aos resultados obtidos. A maternidade atinge a taxa de sobrevida de 94%, muito acima da média internacional que é de 75%.
– Somos uma referência nessa especialidade. Existe uma demanda muito grande de bebês com problema do coração nascendo no Brasil e, infelizmente, nem todos têm acesso a serviços especializados como o nosso, porque são poucos no país – diz Sandra, lembrando que a maternidade atende nenéns nascidos em outros hospitais. – Por sermos um centro de referência, os bebês são transferidos para cá após o nascimento. Existe um risco nesse transporte e no fato do bebê cardiopata nascer em um hospital em que não tenha especialistas 24h para receber esses pacientes. Por isso, recomendamos que sempre que possível o bebê já nasça numa unidade cardiológica. Entretanto somos a única maternidade com essa especificação e nem todos têm acesso a esse tratamento.
O quadro de profissionais, é claro, faz a diferença. Toda a equipe médica precisa ser preparada para cirurgias tão complexas.
– Uma equipe cirúrgica onde o cirurgião principal tenha em torno de 10 anos de treinamento (por isso temos tão poucos cirurgiões especializados no país e também em outros países, como ouvimos nos congressos internacionais que frequentamos). Alem disso um CTI especializado em terapia intensiva e cardiologia pediátrica, com todos seus membros com treinamento especifico. Demora anos para se montar uma equipe toda treinada nesse tipo de tratamento, desde o médicos ao enfermeiro, técnico de enfermagem, fisioterapeuta, perfusionista, instrumentadora etc – destaca a coordenadora.
O problema cardíaco pode ser diagnosticado ainda dentro do útero por meio de ultrassom com ênfase no coração. O exame é feito logo após a 18ª semana de gestação, como parte do pré-natal. Neste caso, a gestante deve ser encaminhada a um centro especializado, como a Perinatal.
– Caso o obstetra ou ultrassonografista detecte alguma anormalidade no coração do bebê, ele indica um ecocardiograma fetal com um cardiologista pediátrico e o diagnóstico é feito nesse momento. Se a gestante não faz o eco fetal, o diagnóstico pode ser feito só após o nascimento – explica Sandra.
Assim como o diagnóstico, a cirurgia também pode ser realizada dentro do útero. Mas isso ainda é algo muito incipiente.
– Cirurgias intrauterinas estão começando a ser feitas em outros países e ainda iniciando muito timidamente no Brasil – diz a médica.
A Perinatal atende pacientes de convênios e também da Secretaria Estadual de Saúde. Segundo Sandra Pereira, em breve, por uma iniciativa do ministério da saúde, a maternidade também receberá pacientes de outros estados.
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