Queimação causada por refluxo costuma ocorrer em 30% a 80% das gestantes
É geralmente mais para o fim da gravidez que muitas mulheres começam a sentir aquela desconfortável queimação que vai do estômago até a garganta. A azia costuma ser frequente entre gestantes, pois está associada a mudanças hormonais que interferem na pressão do esfíncter inferior do esôfago (EIE), causando refluxo.
– Cerca de 7% da população tem doença do refluxo gatroesofágico (DRGE)) e, na gravidez, o problema passa a ser ainda mais comum. A azia é estimada a ocorrer em 30% a 80% das pacientes, em geral, no segundo e terceiro trimestres da gestação. Nos últimos dois trimestres, ocorre uma redução na pressão do esfíncter inferior do esôfago (EIE), alcançando o valor mais baixo na 36ª semana da gestação, voltando aos valores pré-gravidez dentro de uma a quatro semanas após o parto – explica a gastroenterologista Aline Domingues.
Mudanças na alimentação podem ajudar bastante a diminuir a azia, assim como algumas medidas comportamentais, como horário de refeições e posição para dormir. Tudo para evitar tratamento com remédios, o que é sempre pouco recomendável durante a gestação.
– O tratamento deve ser, além de eficiente, seguro para a mãe e para a criança. Em grávidas é costume iniciar o tratamento com medidas comportamentais e, na medida da necessidade, instituir o tratamento farmacológico. As medidas comportamentais incluem: elevação da cabeceira da cama (12 a 15 cm), comer em pequenas quantidades, alimentar-se devagar, evitar alimentação noturna dentro de duas a três horas antes de deitar, evitar determinados alimentos conforme seja observada relação entre sua ingestão e a ocorrência de sintomas – orienta Aline.
Quando há necessidade de tratamento farmacológico, este inclui antiácidos, alginatos, bloqueadores H2 e inibidores de bombas de prótons (IBPs).
– Os antiácidos condicionam alívio rápido e efetivo da azia, porém o efeito é de curta duração. Os antiácidos contendo bicarbonato devem ser evitados durante a gravidez porque podem causar efeitos adversos no bebê. As formulações de alginato têm-se mostrado uma opção preferível aos antiácidos tradicionais. Recentemente, foi confirmada a segurança dos IBPs, não apresentando risco maior de malformações congênitas, mortalidade ou morbidade perinatal – explica a médica.
No caso da alimentação, é bom evitar alimentos gordurosos e condimentados, que costumam causar má digestão e consequente retorno do suco gástrico do estômago para o esôfago.
– No final do esôfago, temos o esfíncter inferior do esôfago (EIE). Ele relaxa para a passagem de alimentos e depois aumenta a sua pressão para que não ocorra retorno (refluxo) do conteúdo ácido do estômago para o esôfago. Quando esta pressão no esfíncter diminui, o ácido do estômago reflui e por isso você sente a azia. Os níveis de hormônios da gravidez (progesterona e estrogênio) ajudam no relaxamento desse esfíncter, permitindo assim um maior retorno, maior refluxo e, portanto, mais azia. Devem ser evitados alimentos que favoreçam o relaxamento do EIE, tais como chocolate, menta e hortelã, gorduras e frituras, refrigerante e bebida alcoólica, além do cigarro – esclarece Aline.
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